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COMO DOEU - Hora décima após a queda

  Sei que doeu no corpo. Mas, ah, como minha alma está mais forte...

  I

  - Espero que agora ele sossegue. Pegaram ele “de jeito” mesmo – exprimiu a dêmona enquanto cuidava dos ferimentos de Gadhiel, que ainda estava desmaiado de tanto apanhar.

  - Nossa, que surra – ouviram de um dos três, que já estava mais restabelecido, experimentando o corpo dolorido.

  - Pois é... Foi na ideia desse louco, né? Vai tentar de novo? – Sekhmet ralhou.

  - Olha, mo?a, até que foi muito divertido – gemeu o magrelo Theliel. - Mas dói demais. Talvez eu tente, mas vai demorar um pouco.

  - P?e muito nesse muito aí – foi avisando a demiana chamada Amonet, que abrira com dificuldade um dos olhos.

  - Eu nem tenho for?as para pensar em qualquer coisa – gemeu Theliel, sem conseguir abrir os olhos.

  - Mas, o que vocês viram, quando chegaram lá? – quis saber Anael, curioso sobre aquela empreitada.

  - Uma loucura – falou o poderoso Bhantor, com grande dificuldade, parecendo que ele fora o mais moído deles.

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  - é sim, uma loucura – gemeu o outro, bem devagar. – Mas, confesso que nunca vi o céu t?o alegre – suspirou.

  - Eles gostam dele, tenho certeza – declarou Amonet.

  - Puxa, sério que diz que eles o amam? – se assustou Anael mal acreditando que ouvira aquilo, tendo os olhos postos em Gadhiel, agora um pouquinho desperto, todo cheio de hematomas, que a tudo seguia em silêncio, um sorriso satisfeito preso no rosto. – Ent?o, sem dúvida alguma, quero ser inimigo ferrenho deles – declarou, sob o riso de Sekhmet.

  - Mas é verdade. N?o sei como explicar.

  - é sim. Foi como estar no meio de uma festa – confirmou Theliel.

  - Puxa... E o saco de pancadas eram vocês, para felicidade deles – estranhou Sekhmet.

  - é muito difícil explicar, e dói tentar – reclamou Bhantor. – Quando eu estiver melhor vou tentar explicar. Eu juro.

  - Vamos, já tratamos dos quatro. Agora vamos deixar que descansem e se recuperem da surra – riu Sekhmet, mandando todos saírem do casebre.

  II

  Estavam todos no terreiro, conversando e olhando mais algumas quedas que ainda aconteciam, agora ocasionais, quando ouviram risadas doloridas vindas da choupana.

  Quando Layla abriu a porta n?o pode deixar de rir: Gadhiel estava dobrado, encarando os outros três, e todos eles riam abertamente, relembrando algumas passagens do assalto ao céu. Assim que a viram, com muito esfor?o se levantaram, e a acompanharam para fora do casebre, sendo rápida e calorosamente acolhidos por todos.

  Gadhiel inspirou demoradamente, os olhos passeando felizes, encarando cada um dos que estavam ali.

  Por muito tempo, longo até demais, sempre estivera sozinho. E agora ali estavam, doze pessoas que sentia que podia chamar de amigos. Seu cora??o cresceu, e viu que estava feliz. E, olhando cada um deles, tocando cada um deles, enquanto conversavam, riam e relembravam alguma passagem, viu que eles também estavam pensando assim.

  Em paz olhou para o céu, perguntando se havia, na terra, algum poder para estragar isso.

  Se arrependeu amargamente de ter pensado isso.

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