Eu estava passeando quando a vi. Por certo eu senti um chamado sutil, e logo soube que era algo importante. Eu a vi de longe, brilhando com uma luz que me chamou a aten??o. Ent?o me sentei em um banco próximo a ela e chamei sua energia. Ela veio em resposta e se sentou ao meu lado. De maneira simples come?amos a conversar. Em um dado momento seu telefone tocou. Eu abri meus ouvidos: um homem de modos secos e indiferentes ligava para ela. De forma grosseira e arrogante, ele a chamou para sair. Dei um pouco de luz para ela, e ela recusou, dizendo que naquele momento n?o poderia. Ele a despediu sem qualquer gentileza, dizendo que em outra hora se veriam.
De forma bem simples, perguntei quem era. Ela me disse que se tratava de um amigo.
- Amigo? N?o..., retruquei com ar pensativo. Amigo é doce e gentil. Ele nem se preocupou em saber o motivo pelo qual n?o se encontrariam, ou se você precisava de algo. Acho que ele estava apenas preocupado com ele, em satisfazer seus desejos. N?o sei se você é virgem ou n?o em corpo, e isso n?o importa, mas vejo que sua alma ainda é fresca e inocente, de uma bela e maravilhosa luz. Por isso, cuide bem dela, proteja-a. é sua responsabilidade e seu dever.
- Ent?o, aprenda a se ouvir, minha menina, a se querer bem. A pessoa que você mais deve amar e ser gentil no mundo é para com você mesma. N?o aceite o que n?o te deixa feliz e leve. E sabe de algo realmente mágico? Se você se fizer bem, o bem se alastrará a partir de você para outros.
Foi algo t?o forte o que aquele homem me disse que eu fiquei em silêncio, ruminando cada palavra, cada sentimento que ele usara nelas. Estava assim até que algo me chamou a aten??o: ele tinha a aten??o fixa para os lados de um vale raso e íngreme entre dois montes muito verdinhos.
Ele se levantou e gentilmente me pediu para acompanhá-lo. Quando chegamos, o que vi foi totalmente incrível: um redemoinho verde se formou acima no pequeno vale entre os montes. Ele girava e girava lá em cima, lindo demais. De repente ele come?ou a se mover lentamente morro abaixo, vindo em nossa dire??o. N?o havia movimento do ar à sua volta, como n?o conseguia ouvir qualquer som. Assim que se p?s frente àquele senhor ele, simplesmente, se desfez quase aos seus pés. Totalmente maravilhada eu vi uma caixa no lugar onde ele se desfizera, caixa que ele abriu com cuidado e respeito.
Dentro dela tudo também era verde, de um verde esponjoso e suave. Eu vi cascas de conchas e alguns grandes e gordos pepinos do mar que respiravam lentamente, e filhotes de cavalo do tamanho de unhas, e sabia que eles estavam mortos. E havia também outras coisas que n?o identifiquei, mas que eram de seres antes vivos. Como se fosse um ritual antigo, ele tomou do ch?o uma boa quantidade de minhocas verdes que passou a lan?ar sobre o que estava dentro da caixa.
Nos levantamos e nos pusemos quietos e silenciosos, em atitude respeitosa. Ent?o, depois de um breve momento, um redemoinho nasceu na caixa e se elevou alto no céu, novamente n?o causando qualquer movimento no ar e nem mesmo deixando qualquer som ser ouvido. T?o gentil quanto surgira ele foi subindo vale acima, levando consigo a caixa. O seguimos com os olhos ainda em silêncio respeitoso. Senti uma certa saudade quando ele desapareceu em quietude, t?o logo atingiu o topo do pequeno vale.
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Satisfeitos com o que havíamos passado voltamos a caminhar e retornamos para a cidade, onde encontramos três senhoras.
Eu vi que a menina que estava comigo notou que havia algo diferente com aquelas senhoras. Na hora que as vi eu percebi que duas delas estavam conscientes e que uma delas n?o estava bem. A que n?o estava bem segurou minha m?o, deixando nela uma escova de cabelos. Fui devolver a escova para suas irm?s, mas elas riram, dizendo que era da outra. Quando fui entregar para a senhora com os olhos perdidos, toquei sua cabe?a com minha testa, momento em que examinei o que lhe fazia mal. Ent?o, suavemente escovei seus cabelos brancos, e vi o ser parasita com nitidez. Ent?o entreguei em suas m?os a escova e gentilmente passei a m?o em sua cabe?a, e espremi o ser minúsculo que se alimentava dela e o arranquei e o desfiz depressa, de tal forma que as suas irm?s n?o vissem, mas permitindo que a menina que me acompanhava visse.
Com o canto dos olhos vi que ela tomara conhecimento do que ocorrera de verdade, e fiquei satisfeito vendo que ela se mantinha tranquila e em silêncio sobre o assunto.
A alegria das duas irm?s foi imensa quando a irm? se mostrou consciente, totalmente restabelecida. E elas passaram a rir e a brincar umas com as outras.
Em paz e em silêncio, para n?o as perturbar em sua alegria nos afastamos. Enquanto caminhávamos vi o rosto sério da menina me observando. A observei discretamente pelo canto dos olhos. Com cuidado lhe dei mais um pouquinho de energia, para que tivesse confian?a.
- é difícil se amar como você disse, ela por fim me disse, a voz abafada e abatida.
- Ah n?o, isso n?o é verdade, minha querida. Fa?a suas escolhas com cuidado, pensando em sua felicidade. é leve e simples, eu disse, sorrindo gentilmente para ela.
Anos depois a vi novamente.
Eu estava no campo quando ela veio me procurar, e estava com duas menininhas. Ela estava feliz e luminosa, e vi que ela estava mais alerta. Ent?o, de tal forma que ela visse, fiz surgir ao lado de cada uma das menininhas um suave redemoinho verde. Uma delas avan?ou o dedo e o tocou, e seu sorriso se abriu e se iluminou. A outra n?o quis, e continuou sorridente como estava.
- Há diferen?a entre as duas?, eu perguntei para ele.
- Escolhas, minha menina, ele disse. Mas as duas s?o almas lindas.
Ent?o, sem saber como aquilo acontecerá, vi uma enorme e grossa parede em meia-lua de pessoas ao nosso lado. E eles estavam todos atentos, olhando para ele.
Ent?o, de forma suave, ele foi se se transformando no redemoinho grande e gentil que eu vira naquele dia em que o conhecera. O redemoinho girou, verde e lindo, por algum tempo, novamente sem burilar o ar ou causar qualquer som. Ent?o, de forma muito suave, ele se desfez no ar. Quando ele se foi todos nós vimos que havia um corpo no ch?o.
Algumas das pessoas se adiantaram e o cercaram e o levantaram com imenso carinho.
- Ele é o amigo no vento, me falou uma mulher que estava ao meu lado. Olhei para ela, e vi que havia um carinho ali que a fazia sorrir. Ele surge em algum momento, ela continuou, e em outro se vai. E enquanto está na terra ilumina e protege almas. Ali só o corpo que ele usou, enquanto ele está indo para um outro lugar.