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O DESPERTAR DE UM SISTEMA

  Eu era um ente, mais como uma fantasia que eu havia criado de mim mesmo, e estava feliz assim. Eu vagava pelo mundo, examinando o que se criava, ou ajudava a criar, em conjunto com os outros como eu, dia a dia, hora a hora, segundo a segundo. E ia e voltava no tempo, examinando os pormenores que porventura tivesse deixado escapar, tentando entender as experiências que ocorriam ali, que eu me deixava experimentar. Confesso que em muitas ocasi?es tinha que ter muito cuidado para n?o cair dentro da experiência, tal a dor que às vezes me pegava sentindo. Ent?o, no último espa?o de tempo, conseguia me restabelecer e..., sorrir, voltando a entender que tudo o que estava ocorrendo ali eram apenas experiências que as entidades, tal como eu, desejavam experimentar.

  Ent?o sai dos tempos duros em que a sobrevivência havia esculpido um cérebro duro em civiliza??es duras, e cheguei nesse tempo de agora, em que você está também.

  Como sempre eu vagava, até que algo me chamou a aten??o: era uma palestra em uma sala pequena de auditório. Tudo estava bem-organizado e arrumado, tal como as mentes e as energias de todos que estavam ali. Flutuei e arrumei um canto para mim, e aguardei.

  O palestrante veio ao púlpito, se apresentou e come?ou sua explana??o. Era algo sobre a mente cósmica. Come?ou sobre as três faces de Jesus, depois foi para o ente que se intitulava Javé, sobre Brahma, sobre os anunnakis, sobre os sumérios e hititas, deu um giro pequeno sobre os quatro mitos dos egípcios, Kardec e Blavatsky e muito mais.

  Suspirei, examinando as energias que estavam ali. Eram energias bem-comportadas, que ficavam avaliando as importancias que tinham e se suas perguntas, quando a sess?o de perguntas fosse aberta, seriam dignas de um “nossa...”. O palestrante tinha muito conhecimento, era verdade, mas era só isso, muito conhecimento. Linhas se desenvolviam e se enroscavam, se ligando a linhas rebuscadas lan?adas por aqueles que ouviam. Em tudo apenas uma tentativa confusa de explicar os pensamentos dos antigos sobre o lugar dos humanos no cosmos, sobre suas cria??es de deuses e seu desespero, culminando por se aprisionarem em dogmas férreos que lhes traziam algum conforto, mesmo que escravos se tornassem por algum tempo.

  Sorri feliz, e isso por eles estarem satisfeitos e confortáveis com as experiências que se proporcionavam.

  Me peguei pensando que ali estavam novamente as tentativas de explicar o homem, tentando entender, na verdade, o que era o amor.

  Amor...

  Na verdade, tudo se resumia só a isto, e apesar de t?o simples, era o mais difícil de ser entendido, ou percebido como aquilo que realmente se buscava. E isso porque o amor que se conhece aqui na terra n?o é o amor, é mais uma posse, um poder, uma responsabilidade, uma recompensa. O que se ama se aprisiona, se castra, exige e se perde.

  Difícil ver que o amor n?o é isso? O véu que a tudo cobre tem o poder de esconder a verdade de seu real significado.

  Amor é o cora??o se expandir dolorosamente, s?o as lágrimas que brotam num cora??o que apenas sorri e n?o se preocupa em explicar, mas apenas em agradecer, em sentir. Ouvi uma vez uma EQM sobre um homem que encontrou seu eusuperior, uma enorme torre de luz. Havia tanto carinho, tanto respeito naquela presen?a, que o humano apenas ficou quieto, a alma expandida, sem nem ao menos perceber que caiam lágrimas de seus olhos pela enorme sensa??o de felicidade, nunca mais desejando dela se separar. Ali, naquela presen?a de luz, n?o havia qualquer julgamento ou repreens?o, mas apenas... amor. O amor estava ali, real, verdadeiro.

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  Me levantei e saí, flutuando alto sobre a cidade e me afastei, pensando sobre tudo o que ouvira, sobre as coisas podia comparar.

  Ent?o vi uma luz afastada em um campo ao entardecer. Sentia uma pulsa??o nascendo ali, e desci para ver o que era.

  Era uma casa simples de bambu e barro coberto com palha. Era uma casa pequena e confortável, com c?modos e mobílias mais que suficientes.

  Mas eram as pessoas que estavam ali que chamavam a aten??o.

  O pai estava deitado no ch?o de cimento queimado, e três crian?as riam e rolavam sobre ele, que tentava capturar alguma para fazer cócegas. As crian?as escapavam da tentativa simulada e os risos explodiam e iluminavam as paredes. E a mulher, com um sorriso pensativo e gentil, estava sentada à porta escolhendo feij?o, aproveitando os últimos raios de sol.

  Sorri e me deixei um bom tempo ali. Minha energia aumentou levemente e se uniu à deles. Ent?o as lamparinas foram acesas, a mulher entrou na casa. As conversas iam e vinham, todos participando, sendo ouvidos e escutando com gosto, tudo regado à risos e gentilezas de cora??o.

  Ent?o me lembrei da palestra confusa que ouvira e prestei mais aten??o àquela família. Experiências que os euirm?os se proporcionavam, pensei feliz.

  Tendo o cuidado de n?o causar qualquer perturba??o na energia maravilhosa que estava ali subi bem alto sobre a casa, e sorri vendo a luz que vinha dela. Prestei um pouco mais de aten??o, e vi as cinco colunas de luzes que havia ali.

  Levei minha aten??o pelo mundo, e fiquei pensativo sobre as guerras horrendas que via, sobre as maldades que ocorriam e sobre as maldades que alguns euirm?os pediam para passar. Vi países torturando seus cidad?os, e vi a escurid?o se enrodilhando e se esticando sobre o mundo.

  Baixei os olhos para a casinha que vira, e vi a escurid?o se revolvendo à sua volta, mas apenas isso, se movendo, procurando alguma forma de entrar. Mas a vi frustrada, porque ali n?o teria como se infiltrar. Expandi um pouco o meu olhar e vi em cidades e campos pequenas torres de luzes, algumas fracas outras mais fortes, algumas que pulsavam discretas e outras que pareciam retumbar, algumas em silêncio e outras que cantavam can??es que o cora??o sabia e desejava ouvir.

  Ent?o avancei a minha vista, e vi o que n?o tinha visto ainda: por todo o mundo havia essas pequenas ilhas de luzes despertas, algumas mais e outras menos, mas nitidamente despertas. E essas ilhas, constatei ao avan?ar só um pequeno período de tempo, estavam aumentando.

  Com o cora??o pulsando suave examinei o planeta, e vi seu cora??o pulsando mais forte, porque ele também despertava de sua experiência de sono.

  Ao levantar os olhos senti uma forte emo??o ao perceber o que acontecia além da órbita do planeta. Depressa flutuei muito alto, bem acima dele, e vi milhares e milhares e milhares de colunas de luzes rodeando a terra, aparentemente cuidando dela, protegendo-a. Muitas delas estavam em outras dimens?es, mas ainda assim atentas ao que se desenrolava abaixo; e havia outros euirm?os dentro das cascas de suas naves, atentos também ao planeta, ao seu despertar. Havia uma expectativa que pulsava forte em todos eles, ainda mais se considerarmos que esse planeta escapara por pouco de uma enorme destrui??o.

  Ao observar um pouco mais longe vi uma gigantesca massa escura que se afastava do sistema solar, insatisfeita pela vibra??o que dele emanava, que n?o mais permitia sua aproxima??o e seu consequente domínio.

  Seria um evento maravilhoso quando esse planeta despertasse e se elevasse, constatei feliz.

  Maravilhado constatei a verdade: o tempo de despertar havia chegado.

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