Tome, isso é tudo o que tenho. Mesmo que seja pouco, é o sopro da minha vida que compartilho.
- E ent?o, está feliz agora, Sênior? – Nemaiel acolheu o amigo com um grande sorriso. – Isso considerando o quanto você tem alguma culpa nisso. Sua última batalha parece que retirou alguns entraves. E ent?o, feliz?
Sênior olhou por algum tempo para o anjo, o sorriso perdido no rosto. Devagar fechou as grandes asas às costas e as fez sumirem.
- Já n?o era sem tempo, n?o é mesmo? Sabe o quanto fico feliz com essa alian?a... – falou, deixando os olhos vagarem pelos que estavam ali reunidos.
- Eu sei, meu amigo. Mas, as batalhas v?o ser muito duras, você sabe, n?o é mesmo?
- Acho que um pouco menos com o que foi enfrentado até aqui. As col?nias que tentaram se instalar, até agora, n?o tiveram êxito. Mas, eu sei que irá valer a pena – suspirou. – Já escolheram o comandante?
- Ao que parece Yeshua está sendo instado para aceitar o encargo.
Sênior n?o conseguiu n?o abrir mais o sorriso.
- Se isso acontecer, ent?o estará tudo bem.
Ent?o, percebendo algo diferente no amigo, prestou aten??o na leitura, logo suspirando pensativo, o olhar perdido em contempla??o do rosto angelical.
– Vai mesmo fazer isso, Nemaiel?
Nemaiel ficou em silêncio por um momento. Apesar de já se ter decidido há algum tempo, a pergunta era a que sempre se fazia desde ent?o.
Ent?o sorriu.
- Isso já está mais que decidido. Lúcifer se tornou uma for?a considerável, mas n?o é só sobre ele, a escurid?o ficou confiante demais, e é hora de botar um freio nessa loucura.
- é certo o que se ouve? Sobre Lúcifer?
- Você fala sobre o ser que o confrontou no seu próprio covil?
- Sim...
- Capturamos alguns dem?nios e algumas dêmonas, e eles descreveram um ser que invadiu sozinho o covil. Ele n?o usava armas, porque ele próprio era a arma. Parece que ele apenas desfazia os dem?nios, como se eles nunca tivessem existido, ou ao menos as coisas e aqueles que se aproximavam demais. A impress?o que ficou é que ele poderia ter destruído todos que estavam por lá, até mesmo as próprias entranhas da terra, se esse tivesse sido o seu desejo...
- Está me parecendo um ser desperto, um impartido – Sênior suspirou. – Nada mais sobre ele?
- N?o, nada mais. Bem, ele está por aí, e vai aparecer. Há algum entendimento, pelo que foi relatado, de que é alguém que está atuando de alguma outra dimens?o, possivelmente da sexta, de onde se espelha.
- é o que me pareceu, pelo que eu ouvi falar.
- Bem, por enquanto sua vontade está sobre os escuros, parece que tentando compreender o que os move. Talvez em algum momento se volte para nós. Vá lá saber...
- é, acho que você tem raz?o.
- E aí ent?o a confedera??o se mostra muito mais importante. A uni?o dos mundos de luz em torno dessa confedera??o que os seus conseguiram ajudar a fazer nascer irá representar toda a diferen?a. Agrade?o demais...
- O mérito é todo seu, meu amigo. N?o vai sentir falta das asas?
- Acho que no come?o sim. Mas, é apenas um adorno, ao final de conta, n?o é mesmo? – sorriu de volta.
- Sabe que n?o é... – devolveu.
- Sim, eu sei, mas é um pre?o muito pequeno para isso. Com a confedera??o dos planetas damos uma resposta eficaz para as sombras, sem ferir o livre-arbítrio. Quando o UM retornar veremos como tudo ficará. Por enquanto, é uma boa medida de conten??o...
- Que bom que encontrou um meio de barrá-los, sem ser pela guerra aberta.
- Em termos, Sênior. No come?o, até a federa??o se firmar e ganhar respeito, as batalhas tender?o a ser muito...
- Terríveis?
- Intensas – sorriu.
- é, tudo leva a crer que ser?o sim. Derfla Edahc, é esse o nome que vai usar?
- N?o gostou?
- Sim, gostei sim. Tem... personalidade – sorriu.
- Você olhou com cuidado as linhas de tempo? Seguiu Urantia?
Sênior suspirou lentamente, sentindo aquele peso que n?o estava querendo em seu cora??o.
- Eu vi as linhas e segui as com maiores probabilidades. Vou tentar ficar por perto, caso ela precise.
- O sacrifício dela será imenso...
- é a vontade dela – falou, o cora??o denunciando um peso suave e constante.
- Só sobraram vocês treze como ganedrais. Dar?o conta?
- Treze é um número bonito, e mais que suficiente. Afinal, n?o deve esquecer de que quando as novas criaturas surgirem e forem ocupadas pelas centelhas, todos que estiverem no ch?o de Urantia v?o estar esquecidos de quem s?o e dos poderes que possuem. Será mais fácil assim.
- Eles podem estar esquecidos, mas os poderes ser?o usados da mesma forma. Você viu como é com os escuros, que também s?o anjos! Esses novos v?o construir uma realidade muito pesada, ainda mais quando as outras criaturas, as que aparentemente ser?o as mais frágeis, surgirem...
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- Eu vi, meu amigo. Mas, tenho certeza de que iremos conseguir.
Nemaiel voltou os olhos para a gigante vermelha. Com um passe amainou a violência de uma erup??o do astro, que brilhou numa faixa bem mais agradável.
- Que assim seja e esteja bem – suspirou. - Um dia vocês acabar?o descendo, você viu algo nesse sentido? – perguntou, sem se voltar para o ganedrai.
- Há essa possibilidade, mas ainda n?o está muito definida – suspirou, deixando-se envolver numa imensa lavareda do sol, que passou com suavidade.
- Caso se mostre mais fortemente, acha isso aconselhável? Vocês ser?o como treze deuses na superfície do planeta, mesmo que coloquem o véu do esquecimento sobre vocês mesmos. Afinal, vocês decidiram n?o mais se dividir, n?o é mesmo? N?o acha muito poder na superfície?
- Os poderes ser?o muito diminuídos, e com o passar dos anos seremos t?o duramente afetados quanto os que já est?o lá. Em todo o caso, você sabe que tem que ser assim... – sussurrou. – Lúcifer fugiu de Urantia, por causa desse novo ser, que ainda precisamos descobrir quem e o que é. Mas, há grande possibilidade dele retornar para Urantia. Lúcifer nunca a esqueceu. Sua vontade está fixada nela, como a de muitos outros dem?nios. Ele a quer para si e fará tudo ao seu alcance para a subjugar. Ainda tem os dois dem?nios que o arquianjo encerrou por lá, e tem também Mercator, um caso ainda n?o resolvido. E Negrumo – falou, a voz um pouco rouca. - Há muita coisa em Urantia, e será preciso muito esfor?o para ajudar Urantia a manter tudo isso sob controle.
- Mas, e se vocês se perderem, e ao invés de ser uma ajuda se tornarem também aquele que fere, mesmo considerando que seus poderes ser?o menores?
- N?o ignoramos esse risco. Talvez até aconte?a de nos perdermos, talvez até aconte?a de ferirmos Urantia, mas há algo em nós que Lucífer e os seus n?o tem: n?o estamos sós. Somos treze, se lembra? Além disso, agora temos a confedera??o e...
Sênior parou seus pensamentos, o olhar na face de Nemaiel, que mostrava intensos sinais de desconforto. Sua alegria decaiu, ao imaginar o que seria. Depressa buscou a luz da gigante vermelha, se tranquilizando e se consolando em seu brilho. Resolveu aguardar que o arcanjo lhe desse a notícia. Agora entendia algo que resvalava na sua mente, sem se anunciar claramente. Aquela solid?o que vira em torno de Urantia...
- Talvez essa última possibilidade seja afastada por um tempo bem longo – Nemaiel sussurrou por fim, evitando olhar diretamente para Sênior.
Sênior parou, os olhos tentando ler a face do amigo, avermelhada pelo gigantesco sol.
- Sem a confedera??o? – falou num fio de voz, confirmando seus receios ocultos. - Essa linha de tempo é t?o forte assim? – sofreu.
- Sim, é sim. Há grandes possibilidades, sim. Até que tome definitivamente sua decis?o ela ficará sozinha, e dependendo da escolha feita, será colocada sob quarentena, até que ven?a a experiência sobre a qual está cismando. N?o podemos arriscar uma experiência t?o densa assim dentro da confedera??o.
- Mas ela ainda n?o fez a escolha.
- Mas fará a escolha, por imergir nela ou n?o. Temos que aguardar. Eu, poucas vezes tive tanto temor. Isso que ela está cismando é algo extremamente perigoso. Ainda n?o foi conseguido algo assim, um planeta inteiro mergulhar assim na escurid?o, dessa forma. O esquecimento só foi conseguido por m?nadas individuais, n?o por um planeta inteiro, com toda sua carga de consciência. Muitos planetas foram destruídos em tentativas como essa. Tememos por ela.
- Eu nunca conheci alguém como ela. Tenho por mim que ela vai conseguir, apesar de também saber que vai ser desesperadamente... doloroso.
- Decepcionado?
- Sim, eu estou... – confessou. – Inúmeras civiliza??es já passaram por Urantia, e algumas foram maravilhosas. Agora mesmo existem muitas col?nias dos espaciais ali. Certo, temos os dem?nios, anjos e tudo o mais, mas... Esse é o momento em que ela mais precisa de apoio, em que mais precisa de nós – murmurou.
- A decis?o n?o foi minha, Sênior, e nem tenho influência suficiente para reverter isso.
- Eu sei, meu amigo... Ent?o será só isso? Abandoná-la nas m?os dos escuros?
- Quando souberam o que ela pretendia.... Bem, muitos ficaram apavorados, e come?ou-se até mesmo a aventar uma atitude de zerar a experiência e fazer a substitui??o da m?nada matriz...
Sênior sentiu que ficava sem ch?o. Os olhos estavam arregalados, ante toda a terrível situa??o que se apresentava.
- Retirar a m?nada planetária e colocar uma outra?
Sênior sentiu uma dor terrível, quando Nemaiel confirmou, os olhos abatidos e tristes.
- Mas, felizmente, eles eram poucos, e foram votos vencidos – sussurrou. - Yeshua se levantou a favor dela e demoveu os conselheiros e governos da confedera??o. Ele se ofereceu...
- Como?
- Yeshua se ofereceu para descer na experiência, para ser um marcador do caminho. Duas outras centelhas se juntaram a ele, e uma se ofereceu como esposa, e a outra como m?e...
- O ambiente será inóspito demais... – Sênior avaliou com pesar, em sua mente rodando o monstruoso sacrifício que as três centelhas estavam dispostas a oferecer.
- Grupos est?o reunidos, para sugerir planos que possibilitem algum sucesso para eles – contou. – Até lá...
- Até lá, como ficam as col?nias que já est?o instaladas na superfície? é óbvio que, no adensamento da experiência, muitas ir?o embora, mas algumas podem querer continuar.
- As col?nias ser?o avisadas, e a decis?o de permanecerem ou n?o será delas. Os planetas-m?es já est?o sendo avisados de que Urantia n?o entrará...
Bem, n?o deixará de ser um acontecimento estrondoso, n?o é mesmo? – Sênior sorriu um pouco entristecido.
- Como se sentirá se acaso ela n?o sobreviver, como os outros que tentaram e n?o conseguiram?
Sênior ficou um longo tempo pensando, a mente perdida na face do imenso sol.
- Como já disse inúmeras vezes, ela é uma das mais fortes que conheci – disse por fim. - Nos apaixonamos por ela quando ela ainda nem estava desperta, quando era uma bola de fogo pequena, ainda se formando. Ela já era especial, ent?o. Tenho certeza de que vai conseguir, apesar de todo o sofrimento que isso trará. Mas, caso ela n?o consiga, eu e os meus irm?os iremos cuidar dela, e vamos levá-la, juntamente com suas consciências, de volta para o UM, para ser renovada.
- Está certo...
- Vá, sei que tem inúmeras providências para tomar. Há muitos que s?o contra o nascimento da confedera??o. Nos encontraremos em outros momentos. Akindará, velho amigo.
- Akindará, valorosos ganedrais – cumprimentou a todos, ciente de que a eles Sênior estava aberto. - Chamem, se precisarem.
- O mesmo – disse para o anjo, antes que ele volitasse.
Por ainda um bom tempo Sênior ficou ali, frente ao sol gigantesco, pensando, cismando. Seu cora??o doía, e n?o sabia o que fazer, pela primeira vez. Ent?o, uma a um eles foram surgindo, t?o silenciosos quanto ele.
- O que viu, Azazel?
- A maior possibilidade é que Urantia entre de vez na experiência, e de que vai conseguir se firmar dentro dela.
- Entendo – falou, a voz pensativa. Azazel era, de longe, a que tinha a maior clareza em examinar as linhas de tempo, e n?o se lembrava de que ela, alguma vez, já tenha errado.
- Ela vai ficar mesmo fora da confedera??o?
- Num primeiro momento.
Castiel sentiu uma dor aguda em Azazel.
- O que há, minha irm?zinha?
- Ninguém deveria ser deixado sozinho, num esfor?o t?o grande quanto esse – murmurou sentida.
- Ela n?o estará – Jophiel sussurrou.
- Os escuros e a luz v?o travar batalhas terríveis aqui, por Urantia, que irá se chamar de Gaia – continuou Azazel, a voz baixinha, quase num fio. - Temo que haja grandes possibilidades dela ser destruída. Mas, ela é valorosa, como nunca vi. A linha de que ela vai permanecer é muito forte, apesar das dores que terá que suportar.
Tudo pareceu silenciar e avermelhar ainda mais, parecendo se encaminhar para uma linha, que a princípio, n?o se mostrara t?o promissora e desejada.
- Parece que a linha que tentamos n?o ver com muita clareza está tomando corpo – sofreu Jophiel.
- Se ela tiver que ser seguida, iremos segui-la, n?o é mesmo? – perguntou Anaita. Ante o consentimento geral, seus ombros pesaram, e ela deu um sorriso simples. – Se eu estiver com vocês, sei que estará tudo bem, que nunca serei abandonada.
Sênior a puxou para si, envolvendo-a em um abra?o amoroso e demorado.
- Somos uma família, umdosirm?os, e para nós só há a possibilidade de continuarmos juntos, esquecidos ou n?o. Se tivermos que descer em algum momento, se tivermos que lutar nossas batalhas assim, que seja ent?o. Faremos isso! Se tivermos que descer e tivermos que entrar nessa experiência, faremos isso! Se tivermos que morrer mil vezes para evitar que Urantia e seus filhos sejam destruídos...
- Faremos isso!!! – disseram todos os outros ao mesmo tempo.