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NEGRUMO - A QUEDA DE HAAMIAH - 2,936

  Seja aquele que te fez algum mal...

  Você é um daqueles que corrompeu e maltratou os pequenos anjos do senhor?

  - A dor dele está intensa demais – disse Melchior. – A dor e a mágoa s?o de tal monta que até nos afeta, sugando nossa energia.

  - Eu sei – Sênior suspirou fundo, tomado de preocupa??o, os olhos perdidos no sol azul que indiferente corria no céu.

  Abatido levantou os olhos e examinou o amigo, perdido em pensamentos na beira do penhasco, nas ondas de morro que progrediam para longe.

  Inspirou fundo e demorado, passando os olhos pelos outros, que se mostravam silenciosos, preocupados com o que acontecia com Haamiah.

  Com um sorriso acanhado se dirigiu para onde estava o torturado amigo.

  - Você andou procurando os anci?os? – Sênior perguntou com suave interesse, assim que se aproximou de Haamiah.

  - Sim, eu os procurei – confirmou, a voz dura, o rosto impenetrável e tensionado.

  Sênior o observou com cuidado, medindo a dor do outro, que o atingia de uma forma incomoda. Sentia, desde que se haviam reunido com o conselho, que o amigo cada vez mais se afundava numa mágoa espessa demais, bem como os outros também viam. Mas, por mais que tentassem aliviar o sofrimento dele, bem sabiam que era uma luta que n?o tinham como intervir, porque o próprio Haamiah os impedir de se aproximar.

  - Meu querido amigo, sabe que isso n?o vai funcionar. Eles pouco est?o se importando...

  - Você sabia que eles est?o tentando marcar reuni?es com os escuros? Os idiotas? Eles est?o sendo usados, enganados. Est?o desviando a aten??o deles para que possam avan?ar e...

  - Mas nós estamos aqui, Haamiah, e n?o estamos sozinhos nisso. O conselho n?o é a fonte de poder, somos nós. A escurid?o está com muita dificuldade em avan?ar e...

  - Você e suas palavras. Vejo perigo nelas. N?o sei como n?o via antes – acusou, se virando diretamente e encarando Sênior com um estranho e perigoso brilho nos olhos.

  - Mas, o que? Haamiah, o que está dizendo...

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  - Eu fui até o conselho, há alguns dias, e resolvi que n?o irei mais...

  - Ah, ent?o..., ent?o isso é bom...

  - Sei que você acha isso bom... – Sênior estranhou ainda mais. Havia fel destilando na voz. – Sabe o que eles me disseram? O grande anci?o olhou bem para a minha cara e disse: “Que se desterre, e aos seus também, em qualquer canto, em qualquer buraco”. O desgra?ado disse isso, bem na minha cara, olhando nos meus olhos.

  - Haamiah, n?o podemos...

  Haamiah, com um golpe seco afastou de si o bra?o estendido de Sênior, que o olhava com um misto de dor e compaix?o.

  - N?o quero sua compaix?o, n?o quero sua fraqueza e maldade perto de mim. De nenhum de vocês – gritou, mostrando algo de descontrole.

  - Mas, eu n?o entendo. Nós...

  - Eu pretendo atacar a cidade branca – revelou se levantando, o corpo todo tenso. – Você irá comigo em mais essa batalha? Os escuros tomaram os anci?os. Somos nós os únicos que podemos...

  - Isso é loucura, Haamiah – contrap?s Sênior, o tom da voz, mesmo que firme, cheia de cuidados. - Essa n?o é a nossa luta. é contra os escuros que estamos batalhando. Os anci?os s?o como nós, e fazem as escolhas deles... Cada um tem o direito...

  - Eu sabia, eu sabia – gritou, a voz dura e cruel, repleta de dor. – Você está do lado dele, e voltou todos os outros contra mim. N?o vê que eles também est?o escuros? Pelo UM, e vocês também. Quando vocês ficaram do lado dos escuros? – gritou enojado recuando um passo. - Desgra?ado você é, Sênior; desgra?ados s?o todos vocês, que se chamam de tardishs, que se nomeiam ganedrais – falou com desprezo, desfraldando as asas. – Ao final, parece que o miserável do Lúcifer tinha raz?o...

  - Haamiah, pelo UM, n?o deixe que a mágoa e a dor o levem para a escurid?o. Nós estamos aqui e podemos te ajudar – pediu se elevando e se colocando no mesmo nível do amigo, as asas ruflando suavemente.

  - Você n?o vai me enganar como engana os outros. Eles n?o devem ter te contado, mas procurei cada um deles, e eles n?o quiseram me ouvir. Você trabalhou na surdina, e trabalhou bem, tenho que te dar os parabéns. Dominou bem a mente deles, mas n?o vai dominar a minha. Agora as coisas v?o se aclarando: você sempre quis o meu comando. Foi você que nos envolveu para que o conselho nos renegasse, n?o foi? Ah, seu miserável... Pois ent?o veja ao longe, desgra?ado, e verá que eu tenho comigo os que acreditam em mim.

  Num movimento súbito sacou a espada e avan?ou, tomado de ódio e rancor.

  O choque das espadas feriu o ar e o encheu de um som que ribombou além.

  Sênior, num giro rápido, atingiu Hamiah de lado, lan?ando-o para longe.

  De súbito, os ganedrais se dividiram, muitos se formando ao lado de Sênior enquanto os outros tomaram posi??o com Haamiah, se juntando a muitos dos antigos companheiros, os olhos t?o atordoados e dementes como agora ele apresentava.

  - Que se vá em paz, velho amigo – Sênior sussurrou com frieza. - Apenas desejo que aquiete seu cora??o e pare de depender tanto da aprova??o dos outros. Esse n?o é um bom sinal. Que siga em paz, Haamiah – falou Sênior com voz forte, colando a espada ao seu lado.

  Haamiah parou no ar. Lentamente embainhou a espada, os olhos passando por cada um dos ganedrais.

  - Sinto por vocês, que um dia chamei de família. Umdosirm?os – falou com uma nota de nojo. - Se despertarem, é só me procurarem e eu estarei de bra?os abertos esperando por vocês. Mas, se vierem como inimigos, inimigo encontrar?o, e n?o terei piedade. Haamiah eu era, Negrumo eu sou. Ent?o, quando me procurarem, sabem a quem devem chamar.

  Sem mais qualquer palavra, lentamente foram subindo no céu, onde se perderam.

  Os ganedrais restantes, contando algumas centenas, cercaram Sênior, e todos se uniram em um largo círculo, chorando de dor pela perda do amigo.

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