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O Fracasso

  O alarme estridente cortou o silêncio do quarto escuro como um grito de alerta. Lukas Hertz abriu os olhos lentamente, sentindo o peso do corpo grudado no colch?o gasto. A luz cinzenta do inverno alem?o mal conseguiu atravessar a cortina rasgada, pintando o quarto com toneladas de derrota.

  Era sexta-feira.

  O dia da reuni?o do conselho de classe.

  Ele já sabia o que iria acontecer.

  — Lucas! — a voz rouca do pai ecoou pelo corredor, seguida por batidas brutais na porta. — Levanta, sua merda! Se você se atrasar de novo, eu te arrasto para a escola pela orelha!

  O menino engoliu em seco, os dedos agarrando o edema puído. Respirou fundo.

  Só mais um dia.

  A escola era um tribunal.

  Os corredores do Ginásio se encheram de risos e olhares de soslaio quando Lukas entrou, com a mochila suspensa no ombro. Alguns sussurravam; outros nem se davam ao trabalho de esconder o sorriso ir?nico. Ele conhecia aquele olhar.

  "O idiota que vai reprovar o ano."

  – Hertz! — O professor Wagner, com seu terno amassado e óculos grossos, designados para a sala dos professores assim que o viu. – Entre. Agora.

  Lá dentro, sentados a uma longa mesa, estavam os professores que decidiam seu futuro. O diretor, um homem alto e frio, folheou um relatório com o nome de Lukas em vermelho.

  — Lukas, você já sabe por que estamos aqui — come?ou Wagner, sem olhar para ele. — Notas catastróficas em matemática e física. Comportamento antissocial. Faltas injustificadas. O conselho foi decidido por unanimidade: você n?o está apto a cumprir obriga??es com sua turma.

  O silêncio que se abalou foi pior que qualquer insulto. Lukas sentiu o rosto queimado, mas n?o abaixou a cabe?a.

  — Você tem algo a dizer? — Perguntou o professor de biologia, quase com pena.

  Ele olhou para cada um deles, lentamente.

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  — Sim — sua voz saiu mais firme do que ele esperava. — Você está treinando gado, sem mentes. Eu n?o falhei. O sistema cortejante.

  O diretor soltou uma risada seca.

  — Belo discurso. Mas discursos n?o passam notas. Pegue suas coisas e saia.

  No caminho para casa, a neve come?ou a cair. Lukas caminhava lentamente, arrastando os pés, como se cada passo o aproximasse do abismo.

  A casa era uma caixa de concreto num bairro esquecido de Berlim. A porta rangeu quando ele entrou. O cheiro de cerveja barata e cigarros enche o ar.

  — E ent?o? — Seu pai estava na cozinha, garrafa na m?o, olhos vermelhos.

  Lucas n?o respondeu. Ele abriu uma geladeira vazia.

  — Estou falando com você, garoto! — O grito veio acompanhado de um soco na mesa.

  — Eu falhei — disse ele, sem se virar.

  O primeiro golpe atingiu sua nuca.

  — EU N?O CRIEI UMA FALHA! — O segundo golpe o fez cair no ch?o.

  Lukas se encolheu contra o armário, com gosto de sangue na boca. O mundo ficou turvo. Mas, em meio à dor, algo dentro dele se rompeu.

  N?o era mais medo.

  Era do ódio.

  Naquela noite, enquanto os roncos do pai ecoavam pelo apartamento, Lukas subiu no telhado. As luzes da cidade de Berlim brilhavam ao longe, indiferentes.

  Ent?o ele viu.

  No canto do prédio, atrás de um tijolo solto, havia um envelope empoeirado. Dentro, um caderno com um símbolo estranho:

  "Superprograma."

  A primeira página tinha apenas uma frase:

  "O poder n?o é dado. Ele é tomado."

  E abaixo, uma lista de nomes.

  Políticos. Juízes. Gerais.

  Lukas ainda n?o sabia o que isso fez.

  Mas pela primeira vez em meses, ele convidou.

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