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Capítulo 4: Mudança de planos.

  Era noite em Crownia. As luzes brilhantes e o barulho incessante das máquinas de casa de jogos dominavam o sal?o movimentado na zona leste da cidade. Elsa sentiu um leve enjoo ao entrar — detestava aquele tipo de lugar, símbolo do império sujo de Gaspar. Tudo ali exalava o tipo de decadência que ele cultivava como se fosse luxo.

  Elsa entrou com passos leves e confiantes, destacando-se imediatamente entre o mar de jogadores distraídos. Ela avan?ou direto para o bar, pediu uma bebida, comprou algumas fichas no balc?o e se sentou diante de uma das máquinas, fingindo interesse enquanto observava discretamente o sal?o.

  Após alguns minutos jogando, Elsa deu um golpe discreto na máquina, fazendo-a travar e parar de funcionar. Com uma express?o de leve aborrecimento e um tom que misturava ironia com tédio, ela chamou um dos funcionários:

  Um rapaz jovem de colete preto se aproximou, co?ando a cabe?a.

  — Ih, sério? Essas máquinas vivem dando problema. Mas às vezes é só encostar de novo a ficha...

  — Prefiro que o gerente dê uma olhada pessoalmente — interrompeu Elsa com um sorriso gentil, mas firme.

  — H?... tá bem. Vou chamar ele.

  O rapaz se afastou, e alguns minutos depois, o gerente, um homem de meia idade com olhar cansado, surgiu entre as máquinas, olhando em dire??o à cliente que o chamara.

  Esperava encontrar uma cliente furiosa, mas se deparou com Elsa sorrindo com suavidade.

  — Parece que tive um problema aqui... Pode me ajudar? — disse ela casualmente, ajeitando uma mecha de cabelo atrás da orelha.

  O gerente hesitou, confuso por um instante, depois sorriu.

  — Claro. N?o lembro de ter visto você aqui antes.

  — Primeira vez — respondeu Elsa, despreocupada. — Estava curiosa... dizem que esse lugar guarda umas surpresas.

  — Hm... dizem que coisas estranhas acontecem por aqui. Deve ter ouvido algo interessante, imagino.

  — Nem tanto. — Elsa deu um meio sorriso. — Esse tipo de lugar costuma atrair o pior tipo de gente... e todos eles respondem a um mesmo rei.

  Ele pareceu alarmado por um segundo, mas o olhar tranquilo dela o desarmou.

  — T? só brincando... ou n?o. Vai ver o tédio me trouxe até aqui.

  O gerente relaxou. Durante a conversa, Elsa reparou nos detalhes: o terno amassado, o leve suor, e principalmente, a alian?a prateada na m?o esquerda.

  Com naturalidade, ela foi encurtando a distancia entre eles, tocando de leve o bra?o dele ao rir, inclinando-se sutilmente enquanto falava, os olhos nos lábios dele. O gerente engolia seco, completamente cativado.

  Elsa passou a fazer perguntas inofensivas com um brilho nos olhos, e cada resposta dele era acompanhada por um toque casual ou um elogio enigmático. Ela brincava com o canudo da bebida, cruzava e descruzava as pernas, deixando a tens?o pairar no ar entre uma troca de olhares e outra.

  — Esse lugar é mesmo cheio de surpresas... — disse ela, inclinando-se um pouco mais. — Você n?o teria um canto mais isolado onde a gente possa conversar melhor, teria?

  O gerente hesitou por um segundo, olhando ao redor do sal?o antes de se inclinar levemente em dire??o a Elsa.

  — Tem, sim... um cantinho mais tranquilo nos fundos.

  — ótimo. T? come?ando a gostar daqui — respondeu ela, com um sorriso insinuante.

  Ele gesticulou com a cabe?a para que ela o seguisse e come?ou a caminhar em dire??o ao fundo do sal?o. Passaram por uma fileira de máquinas silenciosas e por uma porta de seguran?a mal sinalizada. O gerente andava com o passo rápido de quem conhecia cada centímetro daquele lugar, mas olhava discretamente para trás de tempos em tempos, certificando-se de que Elsa o acompanhava.

  Chegando a uma porta lateral, ele bateu firme.

  — Ei, levanta aí — disse, despertando o encarregado sonolento. — Vai pro balc?o de fichas. Me cobre lá por um tempo.

  O funcionário saiu resmungando, ainda co?ando os olhos.

  O gerente ent?o conduziu Elsa até uma sala abafada, iluminada pelas luzes frias dos monitores. Telas exibiam imagens em tempo real de todos os cantos da casa de jogos. Ele trancou a porta com um gesto automático.

  Elsa se aproximou com calma felina, os olhos fixos nos dele, e pousou as m?os sobre o peito do homem. Beijou-o com firmeza, com uma mistura de impaciência e desejo encenado, envolvendo-o com o corpo de forma sedutora. Uma de suas m?os deslizou por trás da nuca dele, puxando-o ainda mais para si, enquanto a outra descia com lentid?o calculada por sobre a cal?a do gerente, acariciando-o com uma suavidade provocante.

  O homem prendeu a respira??o, as m?os trêmulas hesitando sobre a cintura dela. Seus olhos semicerrados oscilavam entre prazer e confus?o, como se n?o soubesse se aquilo era real ou um sonho estranho. O perfume de Elsa o envolvia como névoa densa, e ele já n?o conseguia pensar em nada além da mulher que tinha à sua frente.

  Ela se aproximou devagar, com o corpo colado ao dele, e levou os lábios até seu ouvido.

  — Ouvi dizer que você guarda umas coisas interessantes por aqui, umas chaves... é verdade? — sussurrou, enquanto os dedos deslizavam lentamente pela cal?a, tra?ando círculos suaves sobre o tecido, com a ponta das unhas riscando trajetos sutis e provocantes. O movimento era t?o controlado quanto hipnótico, como se marcasse o compasso de uma dan?a silenciosa. Cada toque parecia medir o quanto ele estava vulnerável — e ele estava. Sem chance de resistir.

  — Você é curiosa demais, sabia? — murmurou ele, encantado e já entregue.

  Ela riu, despreocupada, e abriu a m?o sobre a cal?a dele. Seus dedos se moveram com mais firmeza agora, explorando o tecido em trajetos curtos e calculados, como quem explora os limites do poder que tem sobre outro corpo.

  — Gosto de saber onde estou pisando, só isso.

  Ele apontou para uma mesa próxima.

  — Aquelas chaves abrem uns galp?es na costa sul. Mas sem saber o que procurar... n?o vale muito.

  — Hm. Bom saber. — disse Elsa com um sorriso enviesado, ainda observando o homem como quem encerra um número de ilusionismo. "Mais uma pe?a descartável no tabuleiro de Gaspar", pensou, com o mesmo desprezo com que se joga fora um papel sujo.

  — Você é mesmo diferente... — come?ou ele. Elsa apenas sorriu, os olhos endurecidos por algo que n?o era desejo. Ent?o, a lamina saltou da manga da sua jaqueta de couro em um único movimento. Um corte limpo. Silêncio. O homem tombou sem entender.

  — Menos um no circo dele — murmurou Elsa, limpando a lamina com calma na camisa ensanguentada do homem. Só ent?o se aproximou da mesa para pegar as chaves.

  Em seguida, aproximou-se do painel de seguran?a como quem abre uma gaveta em casa. Digitou o código no teclado com agilidade, acessando as pastas do dia e excluindo as grava??es com precis?o quase automática. Seus olhos dan?avam pelas telas enquanto confirmava que nada havia sido transmitido ou salvo em backup. Movimentou o cursor até os controles principais e desligou uma a uma as cameras do sistema. Tudo feito com gestos calmos, metódicos, sem qualquer hesita??o — com a frieza de quem já havia feito aquilo antes, talvez muitas vezes.

  No banheiro dos funcionários, Elsa retocou a maquiagem e ajeitou o cabelo diante do espelho. Por um breve instante, franziu a testa. Fácil demais. Quase como se alguém quisesse que ela chegasse até ali. Estava tudo t?o preparado… como se ele já esperasse por isso. Parecia que aquele homem e aquelas chaves estavam ali exatamente para fazê-la pegar, como um convite disfar?ado demais para ser ignorado. Aquilo a inquietava de um jeito estranho, como se o silêncio do crime escondesse uma mensagem cifrada — algo que sua intui??o pressentia, mas sua raz?o ainda n?o decifrava.

  This tale has been unlawfully lifted from Royal Road. If you spot it on Amazon, please report it.

  Ela respirou fundo, recomp?s a express?o e saiu do banheiro com passos firmes. Atravessou o corredor estreito, desviando de um carrinho de manuten??o encostado junto à parede, e passou por uma porta de acesso restrito que levava de volta ao sal?o principal. O som dos ca?a-níqueis e das conversas barulhentas a envolveu de novo, abafado e pesado como fuma?a úmida.

  Seus olhos vasculharam o ambiente por reflexo, e ela avistou o funcionário de antes atrás do balc?o de fichas. Acenou casualmente para ele com um leve sorriso nos lábios, mantendo o ritmo controlado da respira??o, como se nada tivesse acontecido. Nenhum tra?o de tens?o em seu rosto — apenas o mesmo charme distraído de quando havia entrado.

  Saiu pela porta da frente com passos despreocupados, como se tivesse apenas passado ali para matar o tempo, enquanto as luzes da noite urbana piscavam ao seu redor, refletindo no asfalto molhado.

  Do lado de fora, tirou o celular do bolso e checou rapidamente a tela — nenhuma mensagem nova. Rolou a tela com o polegar, como se procurasse por uma conversa específica. Aquela pessoa n?o falou mais. Fez um gesto breve, como se considerasse mandar uma mensagem, mas guardou o aparelho sem pressa.

  Em poucos segundos, desapareceu em meio à multid?o noturna que circulava pela cal?ada iluminada por letreiros de neon e faróis de táxis apressados. Ao longe, um corvo cortou o céu noturno com um grito áspero, como se levasse a notícia adiante, sumindo entre os prédios em seguida.

  Sylvia saiu da faculdade e pegou o metr?, sentindo uma ansiedade suave e agradável enquanto se aproximava da esta??o central. Ao descer as escadas da esta??o, avistou Vince esperando-a com um sorriso charmoso e as m?os nos bolsos.

  — Oi, Sylvia — disse ele com um tom leve e caloroso. — Pensei que talvez você tivesse mudado de ideia.

  Ela riu timidamente, sentindo as bochechas corarem.

  — E perder Para Sempre, em Peda?os? Nem pensar. é baseado naquele livro que eu te falei, lembra?

  — Lembro sim — respondeu Vince, inclinando um pouco a cabe?a com interesse. — Fiquei curioso pra ver o que te fez gostar tanto dele.

  — Acho que é porque n?o é só um romance — respondeu Sylvia, olhando para o ch?o enquanto caminhavam. — é sobre como a gente continua amando mesmo quando tudo quebra um pouco por dentro.

  Vince sorriu, divertido, estendendo a m?o de forma brincalhona.

  — Ent?o vamos, senhorita. A sess?o nos aguarda.

  Sylvia aceitou o gesto, sentindo a ansiedade inicial se dissolver completamente enquanto caminhavam juntos.

  Assistiram juntos a Para Sempre, em Peda?os, um filme de época que Sylvia adorava. Enquanto a trilha suave preenchia a sala escura, ela apertava levemente os dedos contra o assento sempre que alguma cena a emocionava. Vince, por sua vez, observava com curiosidade os momentos em que ela se comovia, fazendo comentários sutis em seu ouvido que a faziam rir baixinho e esconder o rosto por um segundo. Entre uma fala e outra, ela lan?ava olhares furtivos para ele, tentando entender se ele estava realmente prestando aten??o no filme — ou apenas nela.

  Ao saírem do cinema, Vince perguntou com suavidade:

  — Gostaria de comer algo? Tem um ótimo restaurante italiano num prédio aqui perto.

  Sylvia sorriu timidamente, balan?ando a cabe?a:

  — Na verdade, quero te levar num lugar especial. Tem um ramen ótimo num beco gastron?mico aqui perto, onde costumo ir com a Camila.

  Vince concordou imediatamente, encantado com o jeito reservado, mas firme, de Sylvia. Caminharam lado a lado pelas ruas movimentadas, até entrarem no beco gastron?mico — um corredor estreito escondido entre dois prédios antigos. O local vibrava com vida: de um lado, barracas de espetinhos soltavam fuma?a aromática que se misturava ao cheiro de alho e gengibre; do outro, bares minúsculos com letreiros em neon piscavam em tons de rosa, azul e verde. Panelas tilintavam, gar?ons gritavam pedidos, e clientes sentavam-se em bancos baixos, rindo alto e dividindo pratos fumegantes de curry, guioza, takoyaki, noodles e doces coloridos.

  Sylvia sorriu com familiaridade ao atravessar o beco, seus olhos descansando por um instante sobre uma barraca de crepe onde costumava ir com Camila. Pararam diante de um pequeno restaurante de madeira escura com uma cortina vermelha na entrada. Ela cumprimentou a atendente com um leve aceno e um "boa noite" informal, como quem já faz parte do lugar.

  Logo os dois se sentaram em um banco estreito, lado a lado, diante do balc?o de madeira gasto pelo tempo e pelo vapor. O aroma do caldo quente envolvia o espa?o de forma reconfortante.

  — Dois ramens especiais, por favor — pediu Sylvia com um sorriso discreto, sem olhar diretamente para Vince.

  — Eu nem sei o que vem nesse, mas se você gosta, deve valer a pena — comentou ele, ajeitando-se no banco e inclinando o corpo levemente em dire??o a ela.

  — Você vai gostar — respondeu Sylvia, rindo de leve. — Mas cuidado, é apimentado.

  — Você sempre vem aqui com sua amiga, n?o é? — perguntou Vince, observando-a com interesse genuíno.

  — Sim, desde que éramos crian?as. Aqui é meio que nosso refúgio.

  Vince sorriu suavemente.

  — Fico feliz por você me mostrar algo t?o especial assim.

  Enquanto esperavam, uma velha televis?o presa no canto do restaurante transmitia uma coletiva de imprensa.

  — Nas últimas semanas, intensificamos nossas opera??es com apoio do setor de inteligência. Recentemente, realizamos apreens?es significativas em diversos pontos da cidade, resultado de a??es coordenadas para coibir a atividade criminosa — dizia Rita, com o uniforme impecável da divis?o de seguran?a. — A popula??o pode ter certeza de que continuaremos atuando com rigor contra os grupos que amea?am a seguran?a pública.

  Uma repórter levantou a voz, fora de quadro:

  — Comandante, essas apreens?es fazem parte de uma a??o integrada para conter o aumento da violência em nossa cidade?

  Rita respondeu com firmeza:

  — Exatamente. Estamos implementando medidas preventivas para evitar que o crime se expanda em áreas vulneráveis. Nossa equipe trabalha em estreita colabora??o com outras agências para fortalecer a seguran?a.

  Outro jornalista perguntou:

  — Existe alguma estimativa sobre a evolu??o da criminalidade e como os cidad?os podem contribuir para um ambiente mais seguro?

  Rita, mantendo um tom controlado, afirmou:

  — Estamos monitorando de perto todas as áreas e intensificando a presen?a policial onde for necessário. Pedimos à popula??o que permane?a vigilante e reporte qualquer atividade suspeita. A colabora??o de todos é fundamental para manter a ordem e garantir a seguran?a de nossa cidade.

  Sylvia observou pensativamente:

  — Tenho sentido que a cidade está ficando meio caótica...

  — Sério? — Vince arqueou uma sobrancelha com leve surpresa. — N?o notei nada t?o diferente assim. De tempos em tempos há apreens?es grandes.

  Sylvia permaneceu quieta por um momento. Nos últimos dias, ela notou policiais patrulhando os locais onde frequentava com mais frequência. Mas devido ao clima da conversa, ela resolveu mudar de assunto.

  Depois de jantar, Vince acompanhou Sylvia até a esta??o. Ela sentiu as bochechas queimarem quando ele pegou sua m?o delicadamente, beijando-a com charme teatral.

  — Até mais, Sylvia — despediu-se Vince, com um sorriso sedutor que a fez desviar o olhar, envergonhada e ao mesmo tempo encantada.

  Assim que Sylvia desceu para pegar o metr?, Vince pegou o celular, digitando rapidamente uma mensagem enquanto seguia na dire??o oposta.

  Quando chegou em casa, Sylvia ligou imediatamente para Camila, que atendeu curiosa:

  — E aí, como foi?

  Sylvia riu baixinho, sentindo o rosto quente.

  — Adorei. Sério, foi perfeito.

  Sena recebeu Sebastian em sua cobertura, localizada no alto de um prédio elegante no centro de Crownia. A vista panoramica da cidade se estendia atrás da imensa janela, onde as luzes ainda tímidas da tarde refletiam nos prédios espelhados.

  Sena estava analisando alguns documentos sobre uma mesa de vidro. Ao ver Sebastian entrar, levantou o olhar, séria. A cidade abaixo parecia tranquila demais diante da tens?o que se acumulava naquele c?modo silencioso.

  — Você viu a coletiva da comandante Rita, n?o viu? — come?ou Sena, indicando a televis?o desligada com um leve aceno da cabe?a.

  — Vi, sim — respondeu Sebastian, com o semblante carregado. — Aquela apreens?o me pareceu conveniente demais. Frágil.

  — Rickson e Bruno entraram em contato comigo nos últimos dias. Estavam preocupados. Foi assim que descobri que Douglas se afastou do comando das opera??es ilegais. Desde ent?o, tudo saiu do controle.

  Sebastian andou lentamente pela sala, pensativo.

  — Isso é muito perigoso. Maria e Gaspar certamente v?o aproveitar para disputar o mercado. Sem Douglas, n?o há ninguém para proteger os negócios ilícitos da fac??o de Paus.

  Sebastian fez uma pausa, e seu tom se tornou mais grave.

  — Mas o que realmente me preocupa é que, com o ás fora da jogada, os outros reis v?o enxergar um novo rei de Paus completamente desprotegido.

  Sena apenas assentiu, a express?o tensa. Ficou em silêncio por alguns segundos, observando a cidade lá embaixo. Já come?ava a tra?ar um plano em sua mente, calculando os riscos e as possíveis rea??es da jovem. Depois de um momento, virou-se novamente para Sebastian, com firmeza no olhar.

  — Eu preciso saber quem é o novo rei de Paus, Sebastian. N?o só por mim, mas pelo futuro da fac??o. Se essa pessoa n?o estiver preparada, tudo que o chefe construiu vai ruir. Preciso olhar nos olhos dele e entender se há alguma chance real de resistirmos.

  Sebastian suspirou, resignado.

  — O nome dela é Sylvia. Eu n?o a conhe?o pessoalmente, mas sei algumas coisas. Ela é estudante de Finan?as na Universidade de Grania. Sei também que costuma frequentar o Royal Café depois das aulas e parece ser muito próxima de uma das gar?onetes de lá.

  — Ent?o é uma garota... — comentou Sena, como se estivesse ruminando as palavras de Sebastian, mais para si do que para ele.

  — Ela tem cabelo loiro, um pouco abaixo dos ombros, geralmente solto. Usa óculos redondos de arma??o fina e tem olhos grandes, expressivos. Costuma se vestir de forma discreta, mas com certa elegancia. Tem um jeito reservado, anda quase sempre com livros debaixo do bra?o. é do tipo que passa despercebida — o que talvez, nesse momento, seja sua maior vantagem.

  Sena estreitou os olhos ligeiramente, gravando o nome sem demonstrar surpresa, mas com aten??o redobrada. Assentiu logo depois, satisfeita com a resposta, embora ainda carregasse a tens?o de quem já antecipa as implica??es do que acabou de ouvir.

  — Vou palestrar no evento da universidade, o "Mulheres de Sucesso no Mundo Corporativo". Com sorte, ela estará lá e poderei abordá-la pessoalmente.

  Sena ficou em silêncio por alguns segundos, com os olhos fixos na paisagem urbana. Já esbo?ava alternativas e riscos em sua mente, avaliando como abordar a jovem sem provocar rupturas irreversíveis.

  — Quero olhar nos olhos dela antes de decidir qualquer coisa.

  Houve uma breve pausa. O olhar de Sena voltou à cidade iluminada pela luz dourada do dia, mas seu pensamento já seguia para outra dire??o.

  — Você confia no Mirio? — perguntou ela, quebrando o silêncio com uma pergunta que parecia ter amadurecido enquanto refletia.

  Sebastian ergueu os olhos, hesitante.

  — N?o sei. Mirio tem uma trajetória marcante nos ramos ilegais. Subiu rápido e ganhou respeito. Eventualmente caiu nas gra?as do Douglas e, com o tempo, ficou próximo até mesmo do chefe. Nunca teve um pacto, mas já está há uns seis anos com a fac??o.

  — O chefe só me chamava para resolver algo no submundo quando era grave... E quando nem você, nem o Douglas, davam conta sozinhos. Vi o Mirio algumas vezes, sempre perto do chefe ou de Douglas, mas nunca soube muito sobre ele.

  Ela ent?o lan?ou um olhar inquisitivo para Sebastian.

  — Qual é a for?a dele, de verdade?

  — Diria que ele é um sete, talvez um oito. — Sebastian deu de ombros, com um meio sorriso. — Nada que seja capaz de fazer cócegas em você, se é o que teme.

  Sena soltou uma risada curta, cruzando as pernas com elegancia.

  — Ele estava t?o calmo quando eu o ameacei. Nem piscou. Aquilo me incomodou mais do que deveria.

  Sebastian desviou o olhar por um instante, lembrando-se daquele dia no depósito e ent?o falou:

  — Talvez ele esteja acostumado com esse tipo de situa??o. Douglas sempre dizia que, quando conheceu o Mirio, ele já era do tipo que dificilmente perdia a calma.

  — Além disso, ele tratava de contrabando. Saía bastante da ilha. — Sebastian fez uma pausa e olhou para Sena. — Você sabe o que isso significa, n?o sabe?

  Sena assentiu devagar, com um brilho analítico nos olhos.

  — Que ele provavelmente já teve que lutar fora do território do jogo.

  — Consegue se imaginar em uma briga sem os seus poderes de carta? — perguntou Sebastian, meio provocativo.

  Sena soltou uma risada baixa, quase divertida.

  — Impossível.

  Sena girou o rosto na dire??o dele.

  — O quanto você realmente conhece o Mirio?

  Sebastian levou alguns segundos antes de responder:

  — Trabalhamos juntos algumas vezes. Ele era rápido, pensava bem sob press?o. N?o tenho nada de ruim pra falar dele. Mas antes do chefe morrer... já fazia uns quatro anos que eu n?o via ele.

  Ela permaneceu em silêncio por alguns segundos, antes de erguer uma sobrancelha, curiosa:

  — Vai continuar seguindo o plano dele?

  — Até onde for possível. N?o confio nele. Mas o pessoal do contrabando confia — e muito. E além disso... — Sebastian fez uma breve pausa. — O Crow claramente confia mais nele do que em nós.

  Ela manteve o olhar distante por mais alguns instantes. Um pensamento passou brevemente por sua mente: e se o Corvo tivesse mudado de lado? Mas ela n?o disse nada.

  Sena ent?o olhou para ele por alguns segundos, como se ponderasse algo mais profundo. Ent?o, com um leve sorriso, desviando o olhar para a janela:

  — Quer sair para almo?ar?

  Sebastian hesitou por um instante, olhando para o ch?o como se ponderasse. Por fim, assentiu com um leve movimento de cabe?a, resignado.

  — Vamos.

  Sena arrumou os papéis cuidadosamente sobre a mesa e os guardou em uma pasta de couro que colocou em uma das gavetas do móvel. Em seguida, caminhou até a porta.

  O elevador chegou com um aviso discreto. Sena entrou primeiro. Antes de acompanhá-la, Sebastian parou por um momento e comentou:

  — A gar?onete amiga dela se chama Camila.

  Sena e Sebastian.

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