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Capítulo 10: Buscando o rei.

  A ansiedade tomava conta de Sylvia desde o momento em que acordou. Mal conseguiu comer pela manh?: o est?mago parecia fechado, e o café da cantina ficou intacto sobre a mesa. O sol atravessava as janelas amplas da biblioteca central da universidade, tingindo as mesas de estudo com reflexos dourados. Sylvia estava ali desde que terminou sua última aula, cercada por anota??es, livros abertos e a tela do notebook à sua frente. Mas os olhos n?o acompanhavam as linhas, e a mente vagava longe.

  As palavras de Sena voltavam em looping: autoridade, rei de paus, caos na cidade, poder. Ela apoiou o rosto na m?o, encarando o cursor piscando no documento em branco. N?o conseguia pensar em finan?as, nem em gráficos, nem em relatórios. Tudo parecia absurdo e, ainda assim, fazia sentido de um jeito que ela n?o conseguia explicar.

  No início da noite, Sylvia fechou o notebook e recolheu o material com movimentos lentos. A biblioteca come?ava a esvaziar, e o céu do lado de fora já estava pintado de tons rosados.

  Ela pegou o metr? como de costume, mas o horário de pico deixava tudo ainda mais sufocante. Viajou em pé, espremida entre executivos cansados, estudantes de mochila nas costas e turistas perdidos. O som metálico dos trilhos, os anúncios confusos no alto-falante e o calor do vag?o pareciam refletir a bagun?a dentro dela.

  Quando desceu na esta??o central, foi quase arrastada pela multid?o escada acima. Do lado de fora, as ruas fervilhavam com letreiros, buzinas e aromas que misturavam fritura e perfume barato. Sylvia seguiu seu caminho pelas cal?adas, sem pressa, deixando os pés decidirem o ritmo. Um ponto familiar a aguardava; ela nem precisava olhar o relógio — sabia que estava na hora.

  Caminhou um pouco pela cal?ada antes de chegar ao ponto de encontro habitual com Camila. A cabe?a ainda cheia, os passos lentos, como se o corpo n?o tivesse pressa de chegar. Encontrou a amiga sentada no parapeito de uma mureta, mexendo no celular. Ao vê-la, Camila sorriu, mas o sorriso murchou rapidamente ao notar o semblante distante de Sylvia.

  — Oi... Tá tudo bem? Você tá estranha. — disse Camila, guardando o celular.

  — Só cansada, eu acho. — respondeu Sylvia, tentando sorrir.

  Camila arqueou uma sobrancelha.

  — Ou será que o Vince perdeu o interesse depois de tanto encontro sem conseguir nada?

  Sylvia corou na hora, olhando para o lado.

  — Claro que n?o. Ele n?o é assim...

  — Hm. Quantas vezes vocês já saíram mesmo?

  — Cinco. — disse Sylvia, hesitante.

  Camila riu e se espregui?ou.

  — E você ainda n?o transou com ele?

  Sylvia a encarou de lado, desconcertada.

  — Eu... n?o senti que era o momento...

  — Vai esperar por aquele momento perfeito que nunca chega? — brincou Camila, cutucando-a com o cotovelo.

  Ela corou por um momento, pensando nisso, mas logo as palavras de Sena voltaram à sua mente — como se n?o a deixassem escapar.

  Mirio estava sentado em um dos banquinhos de um pub escondido entre as ruelas do centro antigo de Crownia. O ambiente era estreito, com paredes de tijolos expostos iluminadas por abajures vintage de luz dourada. A madeira escura do balc?o e das prateleiras trazia um charme envelhecido ao lugar. Uma faixa de punk rock tocava em volume moderado, preenchendo o espa?o com uma energia crua que contrastava com a calmaria aparente.

  Ele girava um copo nas m?os, observando o brilho do líquido ambar, quando Elsa entrou, atravessando a porta de metal com passos decididos. Sem cumprimentos formais, ela pegou a garrafa sobre o balc?o e encheu o copo ao lado do dele. Mirio ergueu uma sobrancelha.

  — Ent?o você veio...

  Elsa tomou a dose inteira de uma vez, fazendo uma leve careta. Apesar da express?o, ela adorava aquela sensa??o — o calor firme descendo pela garganta e o leve torpor que se seguia. Seu sorriso de canto deixava claro que estava satisfeita.

  — Quando a gente come?a? — perguntou, sentindo o calor imediato se espalhar pelo corpo.

  Mirio deu um pequeno sorriso, pegou a garrafa e encheu novamente o copo dela antes de erguer o seu num brinde.

  — Já come?amos — disse ele, tocando o copo no dela.

  Elsa retribuiu com um sorriso.

  Passaram a próxima hora bebendo e conversando com uma leveza que parecia deslocada do verdadeiro motivo de se encontrarem. Mirio falava pouco, mas n?o deixava de observar cada gesto de Elsa: o jeito como ela girava o copo entre os dedos, franzia a testa antes de rir, batia a garrafa na mesa para enfatizar uma história. Elsa, por sua vez, estava mais expansiva, em parte pelo efeito do álcool, contando anedotas recheadas de provoca??es.

  Depois de alguns copos, Elsa ergueu a sobrancelha e apontou para a mesa de sinuca encostada ao fundo:

  — Você joga?

  — Mal — respondeu Mirio, levantando-se. — Mas às vezes o instinto compensa.

  — ótimo. Gosto de ganhar com estilo.

  Ela escolheu o taco com a familiaridade de quem joga há muito tempo. Mirio tentou disfar?ar o ceticismo, mas logo nas primeiras tacadas percebeu que ela era muito mais habilidosa. Ele conseguiu manter a partida viva por um tempo; ainda assim, a cada bola enca?apada, o sorriso de Elsa se alargava. Por fim, ela finalizou a partida com uma tacada seca e precisa, arrancando aplausos discretos do pequeno grupo que assistia.

  — N?o foi mal... pra um amador. — comentou, devolvendo o taco com um floreio exagerado.

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  Mirio riu, erguendo as m?os em rendi??o.

  — Bom saber que n?o devo te desafiar em nada que envolva mira.

  Mais tarde, depois de algumas rodadas — das quais apenas Elsa participou, já que Mirio parou de beber há algum tempo — ele a chamou com um gesto discreto. Ao saírem do pub, o ar fresco da noite trouxe um breve alívio, misturado ao cheiro de gordura e metal quente das ruelas próximas.

  Caminharam por um trajeto familiar e chegaram até um beco mal iluminado, com pilhas de lixo encostadas nas paredes e um gerador barulhento vibrando ao fundo. Mirio encostou-se à parede e cruzou os bra?os, dando uma olhada ao redor antes de falar:

  — Você vai come?ar indo até o Golden Boys — disse, lan?ando-lhe um olhar de soslaio. — Pede pra beber com o Ciel. N?o for?a nada. Só conversa, observa, entende o terreno.

  Elsa ergueu a sobrancelha, surpresa, e piscou algumas vezes como se estivesse tentando se concentrar. A fala saiu um pouco mais arrastada, sinal claro de que o álcool já come?ava a afetá-la.

  — Você tem ideia de quanto vai custar sess?es com o host mais famoso da cidade?

  Mirio deu de ombros, mantendo um leve sorriso enigmático.

  — Os custos s?o por minha conta. Esse cara é o Valete de Copas. Você precisa sair com ele algumas vezes pra ganhar a confian?a dele.

  Elsa ent?o se aproximou de Mirio com passos levemente desajeitados, fruto das doses de bourbon que ainda rodavam em seu sangue. Um sorriso meio torto brincava nos lábios enquanto ela o encarava com intensidade, mais perto do que o necessário. Inclinou-se devagar, apoiando a m?o na parede ao lado da cabe?a dele e aproximou os lábios de seu ouvido, o hálito quente cheirando a álcool.

  — E se você me explicasse os detalhes do plano... na minha casa?

  Mirio hesitou por um segundo. Um leve sorriso surgiu no canto dos lábios, mas ele desviou o olhar para um corvo empoleirado no fio elétrico, que os observava fixamente.

  — Eu adoraria — disse, com suavidade. — Mas existe a possibilidade de eu ter que resolver algo mais tarde.

  Elsa suspirou, levemente emburrada.

  Nesse momento, Mirio tirou um celular pequeno e simples do bolso do casaco e o entregou a ela.

  — Tem um número salvo aí. A gente vai se falar só por esses aparelhos, entendeu? E nunca leva ele quando for pro território de Copas.

  Elsa franziu a testa, girando o celular nas m?os.

  — Por quê?

  — O Dois de Copas. Ele consegue acessar informa??es de celulares e linhas telef?nicas. N?o sei se isso vai mesmo te proteger de ser pega, mas... — ele deu de ombros — é bom ser cauteloso.

  Ele guardou as m?os nos bolsos e deu dois passos rumo à saída do beco. Antes de partir, virou-se por sobre o ombro e falou:

  — Dependendo do que acontecer hoje, você vai ter que esperar um pouco pra agir.

  Sem esperar resposta, Mirio caminhou para fora do beco, desaparecendo entre as sombras e o barulho abafado da cidade.

  Elsa ficou parada por um instante, olhando na dire??o por onde ele sumira. Um sorriso pregui?oso surgiu nos lábios enquanto ela murmurava:

  — Ele é mesmo um cara interessante...

  Vince estacionou em frente ao pequeno edifício onde Sylvia morava, um estúdio modesto entre o centro e o campus universitário. Eram cerca de nove da noite quando ela saiu do prédio, usando um vestido preto simples e uma bolsa pequena a tiracolo. Ao abrir a porta do carro, Sylvia se deparou com um corvo empoleirado na cerca da cal?ada. Ele a observava com olhos escuros e fixos. Um arrepio subiu por sua espinha, mas ela acabou entrando no carro mesmo assim.

  — Você tá linda — disse Vince, sorrindo com naturalidade. — Espero que goste de comida francesa.

  Sylvia for?ou um sorriso.

  — Gosto — respondeu, ainda com a imagem do corvo na mente.

  Durante o trajeto, Vince falava sobre restaurantes e viagens que queria fazer. Sylvia ouvia em silêncio, distraída, com a cabe?a cheia de dúvidas. O carro entrou em uma garagem subterranea e, ao saírem do veículo, Vince conduziu Sylvia até um elevador privativo.

  — último andar. Vista privilegiada — comentou, apertando o bot?o.

  No interior do elevador espelhado, Vince lan?ou um olhar preocupado para Sylvia.

  — Está tudo bem? Você parece meio distante hoje.

  Ela ergueu os olhos.

  — T? bem. Só um pouco cansada — disfar?ou.

  Quando as portas se abriram, o restaurante se revelou em toda a sua imponência: lustres delicados, mesas com toalhas brancas e uma parede inteira de vidro, exibindo a cidade iluminada. Um pianista tocava uma música suave ao fundo, preenchendo o ambiente com uma atmosfera intimista e elegante. Sylvia parou por um segundo, maravilhada com o luxo, a vista e a trilha sonora que parecia saída de um sonho.

  Sentaram-se perto da janela. O menu era extenso e os nomes dos pratos a deixavam confusa, mas Vince se ofereceu para pedir por ambos.

  — E vinho, pode ser? — perguntou ele.

  Sylvia assentiu.

  — Pode. Acho que estou precisando relaxar.

  Vince ergueu uma sobrancelha, surpreso.

  — Primeira vez que aceita beber comigo. Uma ocasi?o especial, ent?o.

  Sylvia riu de leve, finalmente se sentindo um pouco mais à vontade. Pela primeira vez em dias, n?o pensava em cartas, jogos ou heran?as. Estava ali, presente, saboreando a comida, segurando a ta?a de vinho e se deixando levar pela atmosfera elegante do lugar, como se fizesse parte de um mundo que nunca imaginou habitar.

  Ao saírem do restaurante, a cidade já estava mergulhada na escurid?o da noite, e as luzes refletiam nos olhos de Sylvia, que ria de qualquer coisa.

  — Você está bem? — perguntou Vince, segurando sua cintura.

  — Eu? T? ótima! — respondeu ela, eufórica.

  Vince a levou até seu apartamento, um imóvel de alto padr?o com vista para o mar, próximo à costa oeste. Sylvia hesitou um instante, mas entrou.

  Na sala, beberam mais um pouco enquanto conversavam sobre poesia e detalhes banais da semana. Vince comentou que era gerente de uma agência de publicidade, e Sylvia falou sobre os estágios que pretendia fazer.

  Em algum momento, Vince se aproximou com calma, sentando-se ao lado dela no sofá. Passou o bra?o por trás de Sylvia, os dedos tocando suavemente seus cabelos, enquanto continuavam falando em sussurros. Ela virou o rosto, os olhos turvos de vinho encontrando os dele. Vince a olhou por um segundo, como se pedisse permiss?o silenciosa, e ent?o segurou com delicadeza seu rosto, beijando-a.

  O beijo foi lento no início, mas aos poucos se intensificou. Sylvia retribuiu, o corpo relaxado, entregue ao calor do momento. A atmosfera da noite, o vinho, o jantar maravilhoso — tudo isso a envolvia como uma névoa morna. Vince deslizou os dedos por suas costas, enquanto ela puxava levemente sua camisa. Riram baixo entre um toque e outro, entre beijos e carícias, até que se uniram ali mesmo, no sofá da sala, com a cidade brilhando ao fundo como um universo distante e indiferente.

  Mais tarde, usando apenas uma camiseta dele, Sylvia pegou o celular e enviou uma mensagem para Camila:"Akonteceuu. foi incrivelll te conto dpsss rsrsss"

  A quantidade de erros deixava claro o seu estado de consciência, mas a mensagem transmitia exatamente o que havia acontecido. Em seguida, recostou-se no sofá, sentindo-se estranhamente mole.

  Vince, agora vestido, voltou do corredor e se ajoelhou ao lado dela e come?ou a amarrar seus pulsos com fita isolante.

  Sylvia estranhou, meio sonolenta.

  — O que é isso...? — murmurou Sylvia, a voz fraca, tentando mover os bra?os sem sucesso.

  — Shhh... — respondeu ele, colando a fita sobre a boca dela.

  Sylvia tentou protestar, mas o corpo n?o obedecia. Tudo parecia pesado demais.

  Vince passou o bra?o sob suas pernas e a ergueu com facilidade.

  — Ainda bem que consegui infundir o veneno na sua bebida. Mesmo n?o sabendo sobre o jogo... seria impossível pra mim capturar um rei.

  A men??o ao jogo fez o cora??o de Sylvia disparar. A mente, lenta, lutava para processar o que ele dizia.

  Descendo pela escada de emergência — onde havia uma placa indicando “em manuten??o” — Vince se movia com cuidado. Chegando à garagem, abriu a mala do carro e colocou Sylvia lá dentro.

  Ele murmurou:

  — Ainda bem que pedi pra Miku desligar as cameras... seria um inferno apagar tudo isso depois.

  Foi ent?o que atrás dele, uma voz soou fria e cortante:

  — Eu é que agrade?o.

  Vince n?o teve tempo de reagir. Mirio surgiu da escurid?o e, com um golpe preciso, quebrou seu pesco?o.

  O corpo caiu ao lado do carro, sem vida.

  Mirio se aproximou da mala, observando Sylvia com aten??o. Os olhos dela estavam semicerrados, pesados, e a respira??o saía lenta, irregular. O rosto estava corado, a testa úmida de suor, e a silver tape sobre sua boca tremia levemente com cada tentativa frustrada de emitir algum som. Ela piscou devagar, os dedos contraindo-se levemente sobre a fita nos pulsos antes de finalmente ceder ao torpor.

  — Vamos entregar ao Sebastian e à Sena o rei deles — disse Mirio, com um sorriso.

  Mirio atacando Vince.

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