Eu observava desalentado aquela paisagem e os que viviam lá. N?o pensei em ajudar, nem mesmo em sair de lá; apenas estava lá.
Era uma paisagem acabrunhada, sombria, de raso pantano, borrada de tons cinzentos mais pesados e nuvens que pareciam fuligem. As pessoas que ali viviam eram cheias de lamento que lan?avam no ar, mantendo-o cheio de dores de tal modo que n?o houvesse espa?o para mais agonia. Eu n?o vi nenhuma delas de pé. Todas estavam se movendo rente ao ch?o, aquelas que podiam se mover. A grande maioria parecia afundada em pequenos po?os individuais, cheios de barro que cheirava a lodo e água parada.
Mas eu n?o sentia dor ou compaix?o por eles, porque aparentemente eu apenas estava ali.
E tudo estava assim, e estaria assim da mesma forma, até que ela surgiu.
Uma luz surgiu no topo de uma pequena e arruinada colina. à princípio era suave e pulsava, como se uma pessoa se aproximasse caminhando. Os lamentos diminuíram um pouco, muitos se virando curiosos em seus po?os para ver o que estava vindo daquela dire??o.
De repente uma luz se intensificou e foi se encorpando, se elevando na colina. Em poucos segundos uma mulher surgiu dentro do silêncio de dor que se fizera.
Na luz suave que ela era podia-se ver que ela estava envolta em um manto leve que se revolvia com suavidade enquanto ela avan?ava para o meio daquele grupo de seres amargurados.
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Eu a observei extasiado.
Havia tanta suavidade nela, tanto carinho que sua luz parecia n?o ser o aspecto mais proeminente de sua presen?a.
Ela passava muito devagar, caminhando de um a outro ser. Apesar do silêncio respeitoso que passara a revestir o local, muitos voltavam-lhe as costas, alguns mostrando desprezo e até mesmo raiva, mas a grande maioria presos numa timidez e vergonha comoventes. Mas a todos sua luz tocava, e de todos, até dos mais recalcitrantes, eu ouvia suspiros contidos de alívio.
Em alguns casos ela parava à frente do ser e sorria, um sorriso de esperan?a, como se lhes dissesse que tudo ficaria bem, e que logo tudo aquilo passaria. Em alguns casos ainda, onde parecia que os seres estavam mais maravilhados e esperan?osos, ela agachava e segurava o rosto da pessoa, iluminando ainda mais o sorriso de sol e lua que ela transpirava do cora??o. Alguns soltavam um pungente lamento, e choravam, um choro sentindo como se dissesse que n?o conseguia suportar mais.
No entanto, de alguma forma eles se refaziam, com suas dores parecendo terem sido em muito diminuídas.
Mas, em dois casos eu vi o choro desesperado e mudo de um pedido de socorro e perd?o. Para esses dois casos eu a vi puxar com extrema gentileza e carinho a pessoa até si, envolvendo-o em um abra?o t?o terno que é quase impossível de descrever. E, bem lentamente, a estes ela puxou da cova de barro em que estavam, de lá tirando-os.
E eles come?aram a brilhar, e lentamente se elevar, deixando aquele lugar.
Quando olhei para baixo, para o lugar em que havia estado por t?o longo tempo, apenas consegui sorrir agradecido para aquela senhora de luz, que com intenso amor acompanhava minha subida.