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A MORTE DE LÚCIFER

  Como poderia ver o mal em mim se eu sei, no fundo do que sou, que nasci puro?

  Sênior voou em um círculo sobre o topo pedregoso do monte, de onde descortinava inúmeras cadeias de montanhas correndo em todas as dire??es.

  Vendo que tudo parecia calmo resolveu descer.

  A concuss?o foi imensa assim que p?s os pés na terra, como se o mundo tivesse sido chacoalhado violentamente.

  Quando se deu conta estava totalmente cercado por um grande número de dem?nios.

  Inspirou demoradamente, vendo Lúcifer se apresentar, subindo um lado do morro.

  Pensou em abrir caminho e ir embora mas, ao invés disso, fechou as asas às costas, a m?o sobre o cabo da espada, os olhos tranquilos no dem?nio com um sorriso vitorioso que se aproximava. Talvez aquela fosse a chance de parar Lúcifer de uma vez por todas, de fazê-lo despertar, a ele e muitos outros dali. Aquela era uma oportunidade, para até mesmo destruí-los, se disse. Ele já causara muito mal ao mundo, e agora pressentia que o tempo daquele dem?nio estava chegando a algum tipo de termo. E, além disso, estava curioso com um estranho pulso de energia que via muito perto dele, como se dele fizesse parte.

  A alguns passos Lúcifer parou, examinando os seus olhos, como se estivesse procurando por alguma coisa.

  Sênior mais pressentiu que viu o ataque. Ele veio terrível, tomado de insana urgência. Desfraldando as asas num átimo saltou para o lado, a espada brilhando já ao lado, encarando os olhos assassinos.

  Ent?o o viu se afastar alguns passos, os modos arrogantes e um tanto alucinados. De repente ele parou e ficou de frente para ele, encarando-o com intenso desprezo.

  Foi nesse momento que Sênior viu que havia algo diferente em Lúcifer; havia como que uma tênue coroa verde tatuada em sua testa, que rodeava a cabe?a bem encostada no topo das orelhas.

  Na hora soube o que era.

  - Você é um louco, ao ter acreditado que usar uma el nada lhe custaria.

  - Você e seus eternos medos, seus cuidados infantis, suas travas que a tudo destrói, suas indecis?es covardes. Ela e eu somos um, e ela me dá o poder dela para ser o que devo ser.

  - Ela apenas o domina e o corrompe...

  Sênior ficou como que hipnotizado ao ver Lúcifer guardar a espada e, com as duas m?os, for?ar para cima a tatuagem. A tatu pareceu se encorpar e logo era uma coroa verde que irradiava uma tênue neblina em torno de si. Lúcifer se despiu dela e a p?s ante os olhos, ficando a admirá-la por alguns segundos, os olhos como os de um louco apaixonado.

  Sênior se maldisse por ter se deixado distrair. Em movimentos extremamente rápidos vários dem?nios, que antes haviam sido tardischs, caíram sobre ele. A luta foi grande, apesar de rápida. Logo Sênior estava com os punhos e pernas acorrentados em uma linha de for?a, que tentava drenar sua for?a, sem sucesso, apesar de causar grande dor.

  Um dos servos de Lúcifer, gritou de alegria e avan?ou a m?o para tomar a espada, e seus gritos se tornaram lamentos de dor e desespero, quando uma onda azul subiu pelo seu bra?o e envolveu todo seu corpo, para regozijo dos outros, que gritavam e pulavam de alegria, sob os olhos complacentes de Lúcifer.

  - – vomitou com desprezo para o servo que morria em agonia. – N?o adianta avisar – reclamou com um enorme sorriso.

  - Sei que pode se livrar das correntes – falou. – Mas, acredita mesmo que há alguma chance de trazer de volta alguns desses seus antigos irm?os tardischs, ou mesmo eu? – riu debochado e alto.

  Ent?o, bem lentamente, ainda rindo, se aproximou de Sênior, a coroa el pendurada em sua m?o esquerda, for?ando uma parte de sua energia para ela.

  Num movimento súbito desceu a el na cabe?a de Sênior, que sentiu que um impacto poderoso demais.

  - Aguentem – alertou Lúcifer para os que mantinham esticadas as linhas que prendiam o anjo. – Ele vai espernear muito, mas logo vai se acalmar.

  - Acha mesmo que a el vai trazê-lo para o nosso lado? – desconfiou um dem?nio ao lado de Lúcifer.

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  - Tenho esperan?a – murmurou Lúcifer com azedume. – Se isso n?o acontecer, ele morre aqui mesmo – falou, avisando para todos ficarem em alerta.

  Sênior sentiu todos seus músculos se retesando dolorosamente. E a dor estava vivendo dentro de sussurros e promessas, de gritos distantes e xingamentos, que a el prometia que seria mantida distante. E a escurid?o se adensou a toda a sua volta, como um muro t?o denso que nada podia distinguir. E, dentro desse muro, pressentia movimentos poderosos se arrastando ali, desejosos de poder atingi-lo, e dele fazer uso.

  Subitamente Sênior entendeu o que acontecia, e deixou a paz imensa envolvê-lo, enquanto via a escurid?o se dissipar.

  Num movimento brusco se libertou das linhas que o aprisionavam e segurou as laminas das espadas que tentavam atingi-lo. Com um pontapé arremessou Lúcifer e um outro dem?nio para longe, enquanto sacava sua espada lentamente.

  Vendo que eles o observavam com estranheza, levantou as m?os e retirou a el, como vira Lúcifer fazer, e a guardou em suas vestes.

  - Tudo bem, tudo bem, n?o deu certo. Ent?o está bem. Agora, me devolva o que é meu.

  - Você me coroou com ela, ent?o ela é minha agora – sorriu, um sorriso frio e pesado.

  - Vou retomá-la, de um jeito ou de outro – falou com uma voz amea?adora.

  - Você n?o entendeu ainda, Lúcifer? Essa é uma el, um reflexo de algo de poderes somados.

  - Eu sei o que ela é...

  - Acho que pensa saber. Ela potencializa. Você agora é escurid?o, e mais escuro e louco ficou – riu, vendo a cara de azedume do dem?nio. – Para mim, ela apenas me deu for?as para me opor, aumentando a minha luz.

  - Pois é esse servi?o que ela vai continuar a me prestar. A devolva para mim, e se deixe morrer em paz – riu, esgar?ando a bocarra.

  - Tome-a ent?o, se acham que podem – riu por sua vez.

  - Você é fraco, e todos nós pagamos por isso – Lúcifer acusou possesso, a espada vermelho-sangue cortando a pedra, fazendo o ar crepitar nos gumes de sua lamina.

  - Devia ter ficado no buraco de fogo onde estava escondido, Lúcifer – Sênior alertou, a voz dura e de poucos amigos.

  - Cansei, sabe? Cansei de ficar esperando. Te dei todo o tempo do mundo, desse mundo nojento e pestilento, dessa Gaia fétida e apodrecida. Até mesmo usei minha el para tentar fazê-lo despertar. Mas n?o... O que fez com tudo isso? Nada!!! Os seus se foram, te abandonaram, idiota. Agora está aí, pen...

  Lúcifer e os dem?nios que o secundavam pararam, ao verem que Sênior os encarava. E lá estava novamente aquela frieza, que chegava a beirar à maldade.

  - N?o, Lúcifer, n?o foi você que cansou de dar oportunidades.

  Num piscar de olhos Sênior estava sobre eles, golpeando sem piedade. O ar parecia revolvido e possuído de uma eletricidade estranha, um cheiro diferente e pesado, onde até o som corria estranho.

  Lúcifer conseguiu um vislumbre da espada, e seu cora??o gritou de alegria.

  N?o iria mais fugir, mas iria destruir aquele anjo imbecil, de forma alguma. Ao contrário, iria ter como sua a fama de o ter matado.

  Com uma fúria desmedida foi abrindo caminho em dire??o a Sênior, cortando, empurrando, chutando, a distancia cada vez menor até aquele em que, erroneamente, depositara alguma esperan?a de dominar aquele mundo desgra?ado.

  Ent?o tirou de entre os dois o último dem?nio, e riu para a cara séria do anjo. Olhando ao lado viu apenas morte e destrui??o, os seus diminuídos a menos de uma dezena. O campo onde estavam era agora um enorme cemitério, uma tumba sob o céu que insistia em se mostrar azul apesar de toda a selvageria que havia abaixo.

  Levantou a espada e a apoiou no ombro, dando alguns passos para a direita de Sênior, que tinha a ponta da sua enterrada alguns centímetros numa pedra, a face silenciosa e em guarda. A m?o direita segurava a espada, enquanto deixava a esquerda abandonada ao lado do corpo.

  - Sabe o nome dos meus servos que fizeram isso em você? – riu, fazendo referência a alguns ferimentos que sangravam pela armadura já n?o t?o brilhante e de aspecto um tanto roto.

  Subitamente, em total silêncio Sênior retirou a espada da pedra, os olhos fixos em Lúcifer, para ele se adiantando.

  Lúcifer fez men??o de fugir, mas refreou o movimento ainda pequeno, fincando os pés, a espada mantida à frente, aguardando.

  Sênior n?o parou. Quando a espada azul desceu o impacto reboou além das montanhas que cercavam aqueles campos, e uma onda de concuss?o fez tremer a terra e subir poeira veloz a algumas centenas de metros.

  Sênior girou a espada, colhendo a vermelha no giro. Lúcifer sustentou a espada, retirando-a do movimento e imprimindo, com violência, um movimento contra o anjo, que apenas se adiantou e a bloqueou, enquanto girava o corpo e atingia Lúcifer com o antebra?o, que foi lan?ado para longe.

  Ele ainda se levantava quando Sênior desceu a espada, uma e outra vez, obrigando Lúcifer a recuar meio agachado aos trambolh?es.

  Aos gritos Lúcifer exigia que se rendesse, ou que se juntasse a ele. Quando conseguiu se levantar o conseguiu apenas porque Sênior havia parado por alguns momentos o ataque e rodava sobre um pequeno eixo, aguardando que ele se pusesse de pé e se aprontasse.

  Quando isso aconteceu, Sênior avan?ou com uma fúria ainda maior, sob os olhos estupefatos dos poucos dem?nios que tinham permanecido para assistir.

  No entanto, ao ver o que estava para acontecer, eles rapidamente se afundaram na terra e desapareceram das vistas do mundo.

  Lúcifer susteve os golpes que Sênior aplicava em sequência, cada vez com mais potência, até que a lamina vermelha se estilha?ou. Peda?os se cravaram dolorosamente no dem?nio, tal a for?a que for a aplicada, que gritou de surpresa e ódio.

  Lúcifer ainda olhava para o coto da espada desfeita que segurava em suas garras quando Sênior atingiu-o a partir da cabe?a, cortando-o até quase o meio do corpo.

  Sênior, tomado de paz, puxou a espada e a guardou na cintura, os olhos indiferentes ao dem?nio que era acometido por convuls?es à sua frente.

  Com ar distante ficou ali, em pé, aguardando. O corpo caiu no solo, a espada se desfez, e logo após, o corpo se foi.

  Sênior suspirou pesado, levantando os olhos para o céu, onde uma pequena nave de um antigo anjo brilhava suave. Mas, com mais aten??o, viu um brilho esverdeado pulsar quase perto do horizonte, como se fosse um reconhecimento.

  - Qual delas é você, muta? – perguntou baixinho para o horizonte.

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