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O Poço Carmesim e o Guardião Silencioso

  A noite caiu como um véu escuro sobre as dunas de Kael’Zyth. Arien seguiu a trilha indicada por Khron, guiado apenas pelo pulsar surdo do fragmento de cristal e por uma lua rubra que parecia um rubi suspenso no céu. O silêncio era absoluto — até mesmo o vento se calou, como se respeitasse o sagrado ritual que se desenrolaria no po?o oculto.

  Depois de horas de marcha, ele alcan?ou um conjunto de rochas carmesins, cujas faces refletiam o luar em tonalidades de sangue seco. Ali, soterrado pela areia, surgiu o contorno de uma roda de pedra esculpida em símbolos antigos: o portal para o po?o. Arien ajoelhou-se, retirou a capa e come?ou a afastar a areia com as m?os, revelando degraus que desciam em espiral. A cada passo, o fragmento pulsava com mais intensidade, quentando-lhe a palma.

  No fundo, a água era rubra, translúcida como se contivesse cinzas suspensas. Arien estendeu a caneca de metal emprestada por Khron e bebeu sem hesitar. O líquido queimou-lhe a garganta — mas n?o doeu. Em vez disso, trouxe-lhe uma vis?o: flashes de seu passado inundaram-lhe a mente. Viu seus pais adotivos — figuras benevolentes, mas sem tra?o de divindade — proferirem uma ora??o em idioma desconhecido enquanto acariciavam sua testa, pouco antes de entregá-lo ao cuidador do templo. E, por um instante, sentiu uma m?o invisível pousar em seu ombro, como se alguém vigi- lasse seu destino.

  Ao erguer o olhar, encontrou-se frente a frente com a Chama Estática: uma coluna de luz difusa que flutuava sobre a superfície carmesim, sem calor, sem labaredas, mas exalando uma aura mortal. Antes que pudesse reagir, o solo tremeu, rompendo a quietude, e da areia emergiu o Thaurr’kra, guardi?o das brasas silenciosas: uma figura incandescente, mas sem brilho, moldada como um guerreiro de fogo frio. Seus olhos, faíscas negras, perfuraram Arien.

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  O combate foi breve e letal. Arien avan?ou com a lan?a, sentindo seu fio arder em contato com o corpo esponjoso do guardi?o, mas sem produzir chama visível. A cada estocada, o cristal em seu bolso vibrava — como se desejasse saltar para se unir à fera. Arien se lembrou das palavras de Khron:

  


  “Só quem entende o vazio do fogo pode controlá-lo.”

  Num movimento rápido, concentrou seu peso no tronco do Thaurr’kra, usando o punho fechado para esmagar o cristal contra a coura?a obsidiana do guardi?o. Um estrondo mudo reverberou pelas paredes do po?o, e o corpo flamejante desfez-se em pó de cinzas frias. O fragmento de cristal, partida da criatura, cessou o pulsar violento e caiu imóvel no ch?o — mas n?o quebrou.

  Antes que Arien pudesse recolhê-lo, ouviu passos leves atrás de si. Uma figura encapuzada emergiu da penumbra: uma jovem de olhos cor de ambar, cabelos cacheados presos num turbante de areia, empunhando uma lamina curva ornamentada com runas de chama. Seu semblante era cauteloso, mas n?o hostil.

  “Você matou o guardi?o,” disse ela, com voz firme. “N?o muitos ousam tanto. Sou Khaelin Ashar, das Tribos Errantes. Vim observar quem buscava a Chama Estática — e espero que n?o seja apenas para se vingar.”

  Arien limpou o suor da testa, ainda sentindo o eco frio do combate. “Meu nome é Arien Varoth. Vim para entender o fogo que nunca queima… e vingar meu povo. Se for preciso, lutarei contra deuses e dem?nios.”

  Khaelin sorriu, revelando uma covinha no queixo. “Tal coragem beira a loucura — mas pode ser o que precisamos. O deserto guarda mais mistérios do que sua lan?a pode alcan?ar sozinho. Se quiser companhia, aceita meus passos até a aurora? Juntos, poderemos decifrar o próximo enigma: por que este fogo n?o queima e o que ele diz sobre suas origens.”

  Arien hesitou apenas um instante antes de estender a m?o. Ao tocá-la, sentiu um calor inesperado — n?o o fogo mudo do deserto, mas o calor de uma alian?a nascendo.

  Enquanto os dois subiam os degraus em dire??o à lua carmesim, o fragmento de cristal restante, agora silencioso, emitiu um leve lampejo de vermelho — como se pulsasse em uníssono com a nova jornada de Arien.

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