“Este labirinto foi esculpido pelos antigos cantores de chama”, comentou Khaelin, rompendo o silêncio pesado. “Dizem que cada curva guarda um cantico de poder. Preste aten??o aos símbolos talhados nas paredes.”
Arien aproximou-se de um monólito onde a rocha parecia lembrá-lo de veios negros pulsantes. Ali, vislumbres de inscri??es formavam o que ele acreditou ser uma partitura — linhas curvas entrecruzando-se como runas.
“Consegue decifrar alguma coisa?”
Khaelin arqueou a sobrancelha, iluminada por um reflexo carmesim.
“é difícil… Mas vejo o símbolo de Ivelmyr: uma estrela negra circundada por pétalas murchas. Quem trilha este caminho convoca seus Arautos de Fuma?a.”
Arien cerrou os punhos, sentindo o fragmento guardado junto ao peito pulsar com urgência.
“Arautos de Fuma?a?”
“Seres etéreos”, explicou ela, apoiando-se numa gumeira incrustada na parede. “Meio espírito, meio ausência — enviados para testar a determina??o de quem ousa profanar essas pedras.”
N?o precisaram caminhar muito para sentir o ar se densificar. Um sussurro rasgou o vento — um som amortecido que se multiplicou em várias vozes. Antes que pudessem reagir, três figuras translúcidas materializaram-se à frente: vultos negros enrolados em espirais de fuma?a púrpura, sem rosto, mas com m?os afiadas como laminas de nevoeiro.
Khaelin ergueu a lamina curva, seu fio refletindo a luz da lua.
“Arien, mantenha-se atrás de mim. Eles atacam quem hesita!”
O primeiro Arauto avan?ou com uma explos?o de fuma?a, buscando envolver Arien em um abra?o sufocante. Com um salto preciso, ele girou a lan?a, cortando o espectro ao meio — mas, em vez de dissipar-se, a fuma?a abriu-se como um véu, translúcida, atraindo-o.
Love this novel? Read it on Royal Road to ensure the author gets credit.
“Eles n?o podem ser feridos como carne mortal!”, gritou Arien, recuando.
Khaelin bateu com a lamina no ch?o rochoso, convocando uma pequena onda de faíscas de areia incandescentes.
“Use o cristal!”, ela ordenou, apontando para a bolsa de couro onde o fragmento pulsava.
Arien hesitou apenas um instante, sacando o cristal e segurando-o em punho. A luz interna vibrou, expandindo um raio de energia fria que circundou o Arauto mais próximo. A figura recuou, emitindo um gemido sonoro – o primeiro som que aqueles seres permitiam escapar de sua essência muda.
Enquanto o segundo Arauto girava para atacá-los, Khaelin avan?ou, empunhando a lamina curva como se ela fosse uma extens?o de seu bra?o. O corte rasgou a fuma?a, que se dissipou aos poucos, retornando a um leve redemoinho no ch?o.
Quando o último Arauto expirou, Arien abaixou o cristal e notou que restava, cravada na rocha, uma nova inscri??o sorrateira:
“Quem domina o n?o-fogo, verá a passagem.”
Khaelin aproximou-se e leu em voz baixa:
“A passagem… deve haver uma saída oculta além dessas paredes, talvez sob nossos pés.”
Arien encostou a m?o sobre o monólito ao lado. A rocha tremeu e deslizou, revelando uma escadaria descendente.
“é aqui que seguimos?”, perguntou ele.
“Sim”, respondeu Khaelin, com um sorriso cansado. “Segue-me. O próximo andar guarda a sineta de prata que encontrei em Mahran.”
Ao descer, o corredor tornou-se mais estreito e abafado. O eco de seus próprios passos parecia multiplicar-se infinitamente. Arien sentiu o fragmento pulsar com mais for?a e recordou, de súbito, as palavras sussurradas por seu pai adotivo:
“Mesmo sem saber quem és, carrega no peito a chama que te torna humano.”
Ele franziu a testa, questionando-se se a “chama humana” teria algo a ver com o fogo que nunca queima. Mas n?o havia tempo para divaga??es: no final da escadaria, uma porta de metal negro bloqueava a passagem. Em seu centro, um entalhe em forma de sineta.
Khaelin suspirou e tocou a sineta pendurada no pesco?o, a mesma que Arien ouvira na ruína de Mahran. Um tilintar suave reverberou, e a porta rangeu ao abrir-se lentamente, liberando um ar gelado — incomum naquele deserto.
Quando ambos atravessaram a entrada, viram-se em uma camara oval revestida de espelhos escuros. No centro, sobre um pedestal de obsidiana, repousava uma tocha imóvel: pura chama estática, emanando vultos dan?antes dentro da coluna difusa.
Arien apertou o punho sobre o cristal.
“é hora de descobrir o que este fogo quer de mim.”
Khaelin assentiu, desembainhando a lamina.
Juntos, avan?aram para encarar a Chama Estática — e, ao fazê-lo, mal sabiam que aquele momento marcaria o verdadeiro início de uma alian?a cujo eco atravessaria todos os volumes de sua jornada.